Quarta-feira, 15 de Junho de 2011

SERÁ NORMAL QUE...

... NEM OS JORNAIS CULTURAIS/LITERÁRIOS QUEIRAM FALAR
DISTO? COMO SE PODEM RECLAMAR "DA LUSOFONIA"?

 Castelo de Olivença, mandado erigir pelo Rei D. Dinis



LUSOFONIAS EM OLIVENÇA (DOIS DIAS: 28 e 29 de Maio de 2011) - Curiosamente, nenhum jornal ou revista parece querer falar disto!


Decorreu no fim de semana de 28 e 29 de Maio promovida pela Associação local "Além Guadiana", mais uma edição de "Lusofonias" em Olivença (a 2.ª Edição). Desta vez, e ao contrário de que sucedeu na edição anterior (um só dia), o evento durou dois dias.

É difícil descrever o que representa, histórica e culturalmente, este "festival" de cultura portuguesa e lusófona para, e em primeiro lugar, Olivença, para Portugal, e para o espaço lusófono. Trata-se do renascer de toda uma Cultura (a portuguesa) num lugar onde, desde 1801, a mesma deixou de ser "oficial", e onde, durante cerca de duzentos anos, muito se fez para a aniquilar. São habitantes locais, oliventinos genuínos, que, sem entrarem em considerações politicas e considerações sobre litígios de soberania, reivindicam a sua cultura tradicional e a sua pertença ao espaço lusófono. É um tanto confrangedor, para não usar expressões mais críticas que não se dê maior destaque ao que ali ocorre em consequência disso.

No dia 28 de Maio, Sábado, após uma alocução das autoridades locais (com a presença de todas as forças políticas oliventinas) numa curta cerimónia de abertura, as "Lusofonias" foram oficialmente abertas ao público. Pavilhões de instituições portuguesas e de comércio e artesanato (com destaque para a doçaria), que se estendiam por duas secções da antiga Carreira, numa amostra muito significativa da cultura portuguesa. O grupo Gigabombos, de Évora, desfilou no local e, depois, por toda a cidade.

Seguiu-se uma leitura pública, essencialmente por oliventinos, de textos em Português. Documentários e teatro, música, corais alentejanos, bem como actuações de escolas locais (sempre ne língua de Camões), seguiram-se pela noite fora. Note-se que estavam presentes elementos culturais de vários países lusófonos, e não só de Portugal.

Uma exposição fotográfica, aliás apresentada com destaque, mereceu muita atenção, intitulada "O meu olhar sobre a Olivença Portuguesa", do oliventino Jesus Valério. Muita gente a elogiou.

À noite, houve um espectáculo público, um concerto do cantautor espanhol (e extremenho) Luís Pastor, "padrinho" do evento, que teve o cuidado de quase só usar a língua portuguesa, cantando temas portugueses, e recordando grandes cantautores portugueses (a começar por Zeca Afonso).

No dia 29 de Maio, Domingo, reabriu o espaço dos pavilhões, e actuou o Rancho folclórico de Macieira da Lixa (Porto). Seguiram-se canções e dramatizações, uma vez mais em Português e a "cargo" de alunos de escolas locais, e ainda mais música por um grupo português. Só por volta das 24.00 se deu por encerrado o evento, um sucesso que levará, decerto, a Associação oliventina "Além Guadiana" a continuar a esforçar-se por devolver a Olivença a sua cultura e língua tradicionais, com iniciativas como esta ou outras similares, para além de um trabalho contínuo e diário nesse mesmo sentido.

A dita Associação renova o apelo para que, em Portugal, e sem preconceitos, haja uma maior divulgação das suas actividades, bem como apoios, basicamente culturais, já que os seus objectivos são deste teor, e não outros. Nem sempre parece estar a haver uma clara compreensão destes aspectos, o que muito se lamenta.

Estremoz, 30 de Maio de 2011

 

Carlos Luna Carlos Luna

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publicado por elosclubedelisboa às 11:33
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Sábado, 12 de Março de 2011

A PONTE DA AJUDA E A VENDA DO FORTE DA GRAÇA

 

 

No início do século passado o Rei Dom Carlos encontrou-se com o Rei de Espanha e decidiram reparar a ponte da Ajuda, destruída em 1709, por onde passavam as tropas de Elvas e Estremoz que iam ajudar a guarnição de Olivença quando atacada pelos espanhóis.

 

A destruição da ponte fez perigar Olivença que veio a ser perdida no início do século XIX, já no contexto das guerras napoleónicas. Mas, no Congresso de Viena, em 1815, Olivença foi restituída a Portugal, por troca com a restituição a Espanha de Montevideu, que, entretanto, as tropas portuguesas do Brasil tinham conquistado. O acordo foi assinado pelos dois países e nós cumprimos restituindo Montevideu, mas os espanhóis não restituíram Olivença. A diplomacia portuguesa não pode, assim, deixar de reivindicar o território e o Estado Português continuou durante muito tempo, e não sei se ainda agora, a reconhecer o direito à nacionalidade portuguesa de todos os nascidos em Olivença.

 

Mas passou-se muito tempo e as relações entre os dois países são hoje verdadeiramente amigáveis. O que podem sentir os portugueses que visitam Olivença é que ali é Espanha e foi Portugal. Agrada-nos ver o carinho com que o Município de Olivença cuida das velhas coisas portuguesas. Visitar Olivença é importante para nós porque nos permite um olhar que nos ensina muito sobre o nosso país. O lítigio antigo entre os dois países transformou-se, assim, num motivo de aproximação.

 

À diplomacia portuguesa basta manter as suas rotinas sem se preocupar com o assunto. É sintomático que, no curso da recente eleição para a Presidência da República, nenhum jornalista tenha interrogado nenhum dos candidatos sobre esta questão.

 

Há, no entanto, um problema que exige uma decisão a curto prazo. Já há uma nova ponte que liga Elvas a Olivença em boas condições. A velha ponte da Ajuda, embora ainda com interesse local, já não é muito importante. Mas tem uma grande importância simbólica. Tem havido negociações entre os dois países sobre sua reparação e não se sabe, ainda, a que entendimentos vão chegar.

 

A ponte cortada é o símbolo da uma nossa ligação muito especial a Olivença. Reparada, facilita as ligações actuais. Mas permite também aos espanhóis dizer que é uma ponte como outra qualquer entre Portugal a Espanha,.fazendo esquecer que, no passado, foi uma ponte inteiramente em território português.

 

O que é que Portugal vai decidir? Penso que devemos deixar que a decisão seja tomada pelos munícipes de Elvas e Estremoz. São eles que têm interesses actuais relacionados com o assunto e, simultaneamente, podem sentir com mais intensidade a carga histórica da separação de Olivença. Parece-me que, neste caso, Portugal inteiro deve pedir a opinião dos Municípios de Elvas e Estremoz. A sugestão que dou é, assim, que as Assembleias Municipais de Elvas e Estremoz promovam debates sobre este assunto, que sobre ele promovam referendos concelhios se os julgarem úteis e que os órgãos do poder nacional se limitem a adoptar a opinião dos dois Municípios.

 

Um outro assunto que tem que ver com a nossa soberania é o da venda do forte da Graça. A primeira vez que vi nos jornais notícias sobre o assunto foi numa altura em que era Primeiro Ministro o Professor Cavaco Silva. O Ministério da altura não se apercebeu, certamente, da gravidade do assunto.

 

O forte da Graça, situado no cimo de um morro a Norte de Elvas, que durante muito tempo foi usado como presídio militar - dele fugiram o Capitão Almeida Santos e outros implicados na revolta da Sé - é um primor da arquitectura militar do século XVII, que até há bem pouco tempo foi objecto de estudo dos alunos de Engenharia da Academia Militar.

 

Se for vendido a privados, os compradores podem bloquear os acessos terrestres com blocos de cimento e, deslocando-se só de helicóptero, fazer do forte um espaço inteiramente inacessível às Autoridades, em que, protegidos pela legislação europeia, se podem dedicar ao consumo de drogas, à pedofilia, à armazenagem de armas, a actividades terroristas, ao contrabando, ou a actividades similares.

 

Para as autoridades portuguesas não terem nenhuma base legal para entrar no forte, aos proprietários basta-lhes que não cometam nenhum delito em território português, o que será fácil para quem só se deslocar de helicóptero. O problema da venda do forte da Graça é, portanto, um problema de soberania nacional e compete ao Presidente da República impedir, em absoluto, que ele saia do controle das autoridades nacionais.

 

Mas é preciso encontrar uma solução para o assunto porque o Exército deixou vandalizar o forte e o estado em que se encontra é vergonhoso. Uma solução será, talvez, permitir, mediante protocolos, a instalação no forte de instituições como “ Os amigos de Olivença”, escoteiros, instituições culturais, Albergues da Juventude, colónias de férias, associações de antigos combatentes, etc., etc.

 

(20 de Jan. 2011)

 

António Brotas

 

Nota adicional: No Google pode-se encontrar a informação de que foi o exército espanhol que dinamitou a ponte em 1709. A informação está errada porque na altura não havia dinamite. O exército espanhol usou, certamente, a pólvora para....dinamitar a ponte. Em qualquer caso, se o Rei Dom Carlos se tivesse lembrado, a informação podia-lhe ter servido para aceitar o pagamento de metade da obra, ou mesmo exigir o seu pagamento integral pelos espanhóis sem problemas de soberania nacional. Uma vez que tinha sido o exército espanhol que tinha destruído a ponte, que na altura estava em território português, era legítimo, como o é ainda agora, exigir, sem qualquer problema de soberania, que sejam os espanhóis a pagar a reparação.

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publicado por elosclubedelisboa às 23:23
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