Domingo, 24 de Julho - Aula Magna - Cidade Universitária de Lisboa - 16h (venda de bilhetes à entrada, a partir das15h)
Participação especial de: Tito Paris, Eddu, Titina, Johnny Lima, Jorge Neto
No concurso estarão representantes do Vozes da Diáspora de: Cabo Verde; EUA; Guine Bissau; Itália; França; Portugal; Holanda; São
Tomé e Príncipe
Bilhetes: Compram-se no local a 5€ cada (a grupos de 6 oferecemos 1 bilhete)
Concurso "Vozes da Diáspora" Cabo-verdiana em Portugal:
Rolando Borges
+351 965 736 052
Dando muito trabalho duvidar do que nos dizem os guias turísticos, façamos de conta que aceitamos a ideia de que Curaçao vive exclusivamente do turismo e importa tudo o que consome. O nosso «faz de conta» é tão maior quanto o país nem sequer é paraíso fiscal para ninguém.
Mas é claro que tem uma comunidade emigrante relativamente grande cujas poupanças ajudam a equilibrar a balança de pagamentos e a economia paralela também lá deve ir fazer turismo gozando as delícias tropicais. Disso desconfiei quando certa vez estávamos a jantar por cima da praia do hotel e começámos a ver um avião com um enorme holofote a percorrer a zona costeira desde a capital até ao extremo oeste da ilha, ponto em que nos encontrávamos. Passou por nós umas 3 ou 4 vezes e... não li as notícias no dia seguinte e o pessoal do hotel não me soube esclarecer do que se tinha ou não passado. Continuo a acreditar que também ali não se pesque ao candeio usando aviões.
A pesca é artesanal e não vi nenhum barco com mais de 4 metros de comprimento. Mas vi atuns à caça de peixes voadores. Para quem nunca tinha visto um atum fora da lata, achei muito interessante. E vi outra coisa que nunca pensei que existisse. Um barquito com 3 homens andou a pôr uma rede de emalhar mesmo por baixo da arriba em que o meu apartamento estava alcandorado. Um dos tripulantes estava equipado com óculos e respirador para snorkling (nadar à superfície com a cara dentro de água para ver os peixes, os corais ou o mais que lá estiver), outro era o remador e o terceiro devia ser o patrão pois vi-o dar ordens. O nadador desceu calmamente do barco e pôs-se a snorklar junto da rede e a certa altura começou a bater fortemente com os braços na água. E eis que o patrão se chega junto da rede, a começa a puxar à mão para fora de água e a apanhar os peixes que acabavam de ficar presos. Foi num instante que o fundo do barquito ficou cheio de peixes aos saltos. Entretanto caiu a noite e creio que a pescaria se ficou por ali. Mais artesanal do que isto nem talvez os indígenas da Papua Nova Guiné...
À boa maneira lusa, os nossos compatriotas estão sobretudo estabelecidos com supermercados pelo que ficamos muitas vezes sem saber se os escritos estão em papiamento ou em português. «Entrada», «Fruta barata», etc. dão para que fiquemos sem saber em que língua escrevia o autor. Na certeza, porém, de que todos esses comerciantes têm hortas onde produzem uma parte dos frescos que vendem nas suas lojas. Mas devem ser mesmo hortas de pequena dimensão pois não vi nada que se pudesse assemelhar a empresas agrícolas de dimensão sequer mediana. Parece que essas hortas são a única agricultura que actualmente existe em Curaçao. O que os portugueses não produzem e querem vender, importam. Sim, parece que o comércio de víveres é quase todo nosso. Quase todo mas não todo pois há o mercado flutuante em Wllemstad, a capital, constituído por venezuelanos que produzem (ou compram) no continente os frescos que a ilha não produz. E é curioso saber que esses comerciantes-mareantes fazem a viagem pelo menos uma vez por semana num percurso que pode demorar entre 6 a 12 horas conforme o ponto da costa venezuelana a que aportam. Fiquei com motivos suficientes para desconfiar que o avião do holofote andaria à coca dum ou de vários destes venezuelanos. À conversa em surdina que um desses mareantes me fez respondi apenas «no entiendo» e pisguei-me antes que ele me quisesse explicar aquilo que eu não queria entender.
(*)
Do outro lado do estreito que acede à baía, estava impante o paquete “Europa” que despejara um milhar de turistas na cidade cujo comércio abriu apesar de nesse dia, 25 de Abril, ser feriado.
Angola, país rico, transfere o Domingo de Páscoa para a 2ª feira imediata pois é um sacrilégio fazer feriado em fim-de-semana; Curaçao, a ilha inútil que os espanhóis desprezaram, faz feriado na 2ª feira imediata à Páscoa para celebrar em estilo carnavalesco o que no Domingo celebrou canonicamente.
João Calvino ficaria muito triste e o Padre António Vieira muito contente se soubessem que 85% da população de Curaçao é católica.
E quem ensina português aos filhos dos donos dos supermercados?
Lisboa, Maio de 2011
Henrique Salles da Fonseca
No âmbito da sua missão de promoção da língua e cultura portuguesas, vai o Elos Clube de Lisboa iniciar um curso de português para estrangeiros adultos (maiores de 18 anos).
A1 – 2ª e 4ª feiras
A2 – 3º e 5ª feiras
Português XXI Nível 1 de Ana Tavares, edição LIDEL (Preço: € 24,15)
Rua João de Lemos,4 – 1300-323 Lisboa
Tel: 21 362 3273
Tlm: 964.030.227. (Henrique Salles da Fonseca)
Por mera curiosidade, recordo que Peter Stuyvesant saiu de Curaçao em 1643 porque numa tentativa da conquista de St. Maartens aos espanhóis levou um tiro de canhão numa perna tendo que ir a tratamento à Holanda. Puseram-lhe uma perna de pau que ele fez revestir com placas de prata e foi já recuperado que o nomearam para a conquista de uma ilha lá mais a norte. Conquistada, chamou-lhe Nieuw Amsterdam. Nós hoje chamamos-lhe New York e à ilha propriamente dita chamamos Manhattan.
E seguiram-se outros Governadores à frente dos destinos de Curaçao até que o Padre António Vieira proferiu na Igreja da Ajuda, em Salvador da Bahia, o sermão “Polas armas de Portugal contra as de Holanda” assim provocando a Revolta Pernambucana que expulsou definitivamente os holandeses do Brasil. O Governador do Brasil Holandês, Maurício de Nassau, apanhou uma depressão de tal modo profunda que nunca dela voltou a recuperar acabando por morrer muito transtornado na sua Alemanha natal.
Por deturpação histórica, o Príncipe alemão Maurício de Nassau é por vezes apresentado como um pirata enquanto o inspirador do «pirata da perna de pau, olho de vidro e cara de mau» passa por um grande e nobre Senhor. Tresler é mais fácil do que contar a verdade. A questão está em que o Príncipe perdeu a causa por que pugnava e o coxo, perdendo uma ou outra batalha, ganhou as guerras em que se meteu.
Mas o Brasil Holandês era refúgio de muitos judeus portugueses que temeram o regresso da Inquisição pelo que decidiram acompanhar os holandeses na fuga. Rumaram a norte e se os houve que chegaram a Nieuw Amsterdam, outros houve que optaram por outra possessão holandesa, bem tropical, Curaçao. Chegaram em 1703 e ainda hoje são uma comunidade da maior relevância local. Basta referir que o banco mais conhecido se chama «Maduro and Curiel’s Bank». O apelido Maduro inspira o maior respeito e é um dos seus membros que preside à comunidade frequentadora da Sinagoga “Mikvé Israel-Emanuel” que, consagrada em 1732, é hoje a mais antiga em funcionamento ininterrupto nas Américas.
(*)
Sinagoga “Mikvé Israel-Emanuel”
Logicamente, com a chegada dos judeus portugueses, o papiamento levou um importante refrescamento da nossa língua.
E se a importância da comunidade judia tem muitos exemplos que vão neste breve texto ter que ficar no tinteiro, um há que não pode ser omitido: Moisés Frumêncio da Costa Gomes.
(**)
Moisés Frumêncio da Costa Gomes
De facto, foi este ilustre descendente de lusa gente que nos finais da década de 40 do século passado negociou com a Holanda a nova relação constitucional entre a metrópole e as chamadas Antilhas Holandesas tendo Curaçao deixado de ser uma colónia para passar a constituir uma região autónoma holandesa.
A autonomia significou que Curaçao assumiu a sua própria governação mantendo a Holanda a liderança das políticas monetária e da Justiça. Daí que a moeda seja o Florim com um câmbio que revela muita prudência.
É perante este câmbio que o visitante rapidamente se habitua a tomar em grande respeito este pequeno país.
Apeteceu-me dizer aos judeus de Curaçao que em Portugal já extinguimos a Inquisição em 1821 e que assim já podem regressar em paz. Só que quando os procurei a Sinagoga estava fechada pois no dia 25 de Abril também lá é feriado e no dia seguinte eu voaria para outras latitudes.
(continua)
Lisboa, Maio de 2011
Henrique Salles da Fonseca
(**)
Bon Bini Curaçao = Bem-vindo a Curaçao
A cerca de 40 quilómetros ao largo da Venezuela, Curaçao parece uma banana com um pouco mais de 60 kms de comprimento, uma largura que varia entre os 3 e os 14 kms e é habitada por cerca de 100 mil pessoas. O respeito que inspira não resulta, pois, da dimensão física.
A tez popular varia entre o negro mais negro que os trópicos alguma vez imaginaram e o café com leite claro. Totalmente escolarizados, os naturais (curacenses?) falam e escrevem quatro línguas (papiamento, holandês, inglês e espanhol) mas têm o papiamento como língua materna. E o que é esta língua? É um crioulo de português salpicado de espanhol e de outras influências nem sempre bem identificadas mas que se diz serem africanas. Nós, portugueses, percebemos praticamente metade das frases e o resto lá vamos tirando pelo sentido da conversa. O facto de a dicção ser especialmente meticulosa facilita a compreensão. Quando não percebemos, lá vem o inglês ou o espanhol. Holandês, vou aprender na próxima encarnação.
Como é que tal realidade acontece num país que nunca foi colónia portuguesa?
A História de Curaçao começa no ano de 1499 com a chegada dos espanhóis; antes disso era a pré-história pois os habitantes que lá existiam – índios oriundos do continente ali mesmo em frente – não deviam conhecer a escrita. Ou seja, não tendo até hoje sido identificados traços desse povo que pudessem ser assemelhados a escrita, presumimos que a não conhecessem e, portanto, apelidamos a sua como sendo pré-história.
Chegados os espanhóis, logo começaram à procura de oiro mas...
O domínio espanhol manteve-se durante todo o século XVI, período durante o qual os indígenas foram transferidos para a ilha Hispaniola (actual Ilha de S. Domingos onde se localizam a República Dominicana e o Haiti) ficando Curaçao a servir de ponte para a exploração e conquista dos territórios no norte da América do Sul.
Mas como não foi encontrado oiro e a água potável era quase inexistente, à medida que avançava a colonização do continente a ilha foi perdendo importância para os interesses espanhóis, foi considerada inútil e abandonada progressivamente.
Foi com a saída dos espanhóis que começaram a aparecer outros cobiçosos e não tardou muito para que os piratas franceses, ingleses e holandeses começassem a defrontar-se para se servirem das diversas baías que a ilha tem para refúgio nos intervalos das intensas actividades que já então desenvolviam em todo o Mar das Caraíbas. E dos confrontos entre piratas foi rápida a passagem para o confronto entre as Armadas dessas três potências o que, diga-se em abono da verdade, pouca diferença fazia. Na realidade, o que distinguia os piratas dos almirantes era que estes custavam dinheiro às respectivas Coroas enquanto que os bucaneiros se auto financiavam e lá iam dando parte dos lucros apurados aos seus Senhores para lhes ganharem as graças. Apesar desta diferença não despicienda, entraram as Armadas em acção e acabou vitorioso em 1621 o almirante holandês Johan van Walbeeck que em 1634 formalizou a entrada da ilha na posse da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais, o mesmo é dizer na posse do Príncipe de Orange, ou seja, o Rei da Holanda.
Em 1642, Peter Stuyvesant foi nomeado governador e Curaçao tornou-se num verdadeiro centro comercial holandês desenvolvendo intensas actividades esclavagistas sobretudo na extracção de sal.
(*)
Salinas em Curaçao
A mão-de-obra escrava foi abundantemente fornecida por comerciantes portugueses os quais recrutavam também os capatazes que administravam o trabalho desenvolvido nas salinas. Ou seja, eram portugueses que lidavam com os escravos e era em português que as ordens eram dadas.
Eis como um território que nunca foi português, tem uma língua oficial que nós entendemos com alguma facilidade. Mais: os próprios curacenses (será assim que se diz?) entendem português desde que falemos pausadamente, sem erudições pretensiosas e, sobretudo, com dicção clara.
Como havemos de fazer para lhes darmos algum enquadramento lusíada?
Lisboa, Maio de 2011
Henrique Salles da Fonseca
Fonte: Fundo Monetário Internacional (FMI)
Base: Ano de 2010
Rank |
Country |
US$ |
1 |
88,232 |
|
2 |
80,304 |
|
3 |
57,238 |
|
4 |
52,238 |
|
5 |
47,200 |
|
6 |
47,123 |
|
— |
45,277 |
|
7 |
41,765 |
|
8 |
40,777 |
|
9 |
39,692 |
|
10 |
39,454 |
|
11 |
39,033 |
|
12 |
38,685 |
|
13 |
38,293 |
|
14 |
37,775 |
|
15 |
36,973 |
|
16 |
36,764 |
|
17 |
36,681 |
|
18 |
36,274 |
|
19 |
35,930 |
|
20 |
35,053 |
|
21 |
34,743 |
|
22 |
34,401 |
|
23 |
34,092 |
|
24 |
33,828 |
|
25 |
29,791 |
|
26 |
29,651 |
|
27 |
29,418 |
|
28 |
29,404 |
|
29 |
28,833 |
|
30 |
28,045 |
|
31 |
27,899 |
|
32 |
27,460 |
|
33 |
26,807 |
|
34 |
26,197 |
|
35 |
25,884 |
|
36 |
24,987 |
|
37 |
24,837 |
|
38 |
24,081 |
|
39 |
23,742 |
|
40 |
23,113 |
|
41 |
22,296 |
|
42 |
22,267 |
|
43 |
20,137 |
|
44 |
18,837 |
|
45 |
18,815 |
|
46 |
18,387 |
|
47 |
18,274 |
|
48 |
17,608 |
|
49 |
16,997 |
|
50 |
16,566 |
|
51 |
15,807 |
|
52 |
15,603 |
|
53 |
15,449 |
|
54 |
15,331 |
|
55 |
14,982 |
|
56 |
14,878 |
|
57 |
14,865 |
|
58 |
14,603 |
|
59 |
14,342 |
|
60 |
14,330 |
|
61 |
14,266 |
|
62 |
13,864 |
|
63 |
13,392 |
|
64 |
13,214 |
|
65 |
12,976 |
|
66 |
12,401 |
|
67 |
12,397 |
|
68 |
12,052 |
|
69 |
11,889 |
|
70 |
11,766 |
|
71 |
11,289 |
|
72 |
Irão |
11,024 |
73 |
10,881 |
|
74 |
10,808 |
|
75 |
10,732 |
|
— |
10,725 |
|
76 |
10,505 |
|
77 |
10,456 |
|
78 |
10,432 |
|
79 |
10,227 |
|
80 |
10,261 |
|
81 |
9,953 |
|
82 |
9,488 |
|
83 |
9,445 |
|
84 |
9,350 |
|
85 |
9,281 |
|
86 |
8,955 |
|
87 |
8,811 |
|
88 |
8,647 |
|
89 |
8,643 |
|
90 |
7,951 |
|
91 |
7,894 |
|
92 |
7,751 |
|
93 |
7,518 |
|
94 |
7,442 |
|
95 |
7,381 |
|
96 |
7,134 |
|
97 |
7,103 |
|
98 |
6,945 |
|
99 |
6,893 |
|
100 |
6,665 |
|
101 |
6,597 |
|
102 |
6,412 |
|
103 |
6,367 |
|
104 |
6,181 |
|
105 |
5,884 |
|
106 |
5,731 |
|
107 |
5,658 |
|
108 |
5,533 |
|
109 |
5,483 |
|
110 |
5,178 |
|
111 |
5,108 |
|
112 |
5,103 |
|
113 |
5,057 |
|
114 |
4,915 |
|
115 |
4,871 |
|
116 |
4,807 |
|
117 |
4,773 |
|
118 |
4,584 |
|
119 |
4,487 |
|
120 |
4,450 |
|
121 |
4,404 |
|
122 |
4,380 |
|
123 |
3,727 |
|
124 |
3,725 |
|
125 |
3,599 |
|
126 |
3,562 |
|
127 |
3,290 |
|
128 |
3,123 |
|
129 |
3,022 |
|
130 |
2,974 |
|
131 |
2,969 |
|
132 |
2,959 |
|
133 |
2,789 |
|
134 |
2,663 |
|
135 |
2,595 |
|
136 |
2,553 |
|
137 |
2,466 |
|
138 |
2,435 |
|
140 |
2,398 |
|
141 |
2,302 |
|
142 |
2,165 |
|
143 |
2,162 |
|
144 |
2,099 |
|
145 |
2,086 |
|
146 |
1,972 |
|
147 |
1,907 |
|
148 |
1,879 |
|
149 |
1,814 |
|
150 |
1,784 |
|
151 |
1,686 |
|
152 |
1,653 |
|
153 |
1,625 |
|
154 |
1,609 |
|
155 |
1,565 |
|
156 |
1,497 |
|
157 |
1,453 |
|
158 |
1,341 |
|
159 |
1,266 |
|
160 |
1,250 |
|
161 |
1,246 |
|
162 |
1,245 |
|
163 |
1,206 |
|
164 |
1,202 |
|
165 |
1,176 |
|
166 |
1,121 |
|
167 |
1,082 |
|
168 |
1,056 |
|
169 |
1,018 |
|
170 |
998 |
|
171 |
982 |
|
172 |
910 |
|
173 |
908 |
|
174 |
847 |
|
175 |
803 |
|
176 |
764 |
|
177 |
720 |
|
178 |
676 |
|
179 |
410 |
|
180 |
396 |
|
181 |
395 |
|
182 |
??? |
- Os prédios estão cheios de gente velha! Isto é um bairro de gente velha!
Via-se que era com desgosto que a minha amiga falava, sentada na esplanada, diante do seu garoto pouco claro. Eu é mais a bica calmante dos bocejos escancarantes da manhã, cujo primeiro gole detém instantaneamente bocejos e lágrimas do cansaço diário, diz-se que graças à cafeína milagreira. Mas ela continuou, atirando a cabeça em jeito dramático, abarcando os prédios e a senhora idosa que passava no largo de braço ao peito:
- Os das vivendas escapam. Mas é uma coisa horrível Ih! Pá! Ai!
Fiquei deprimida. De facto, o tempo passa que é um ver se te avias. E não nos podemos esquecer de ser cuidadosos a andar, que a calçada leva-nos facilmente ao malhanço, já o tenho dito, sem que isso tenha relevância, que sou conservadores nos buracos. Mas que há muitos velhos, há, los hay. E buracos, claro. Também.
Não quero deixar-me abater e retomo as notícias do meu país, mais de acordo com o nosso intelecto.
-O Cavaco interrompeu as férias e foi visitar o Ascensão Amboim, por via das presidenciais, começou ontem a candidatura… Não conhece o Ascensão Amboim? Não me diga, que eu caio já aqui para o lado. Tem um refúgio para crianças abandonadas, veja na Internet…
É muito crítica a minha amiga, com a falta de actualização nos conhecimentos. Pelo menos nos meus. Há dias foi a respeito do Casino do Estoril, que fez um estardalhaço idêntico, por eu ainda não ter ido ver as remodelações, presa que vou estando aos espaços das minhas limitações, que ela atribui mais à ausência de curiosidade. Por isso lhe mostrei a troca de correspondência internética, com o meu amigo Salles da Fonseca, prova de que, tal como o Hamlet, também eu acho que “há mais coisas entre o céu e a Terra, Horácio, do que sonha a nossa vã filosofia”. Foi a respeito de um poema da Glória de Santana que ele publicou no blog Elos Clube de Tavira, a que preside:
Se me quiseres conhecer
Se me quiseres conhecer,
Estuda com olhos de bem ver
Esse pedaço de pau preto
Que um desconhecido irmão maconde
De mãos inspiradas
Talhou e trabalhou em terras distantes lá do norte.
Ah! Essa sou eu: órbitas vazias
No desespero de possuir a vida
Boca rasgada em ferida de angustia,
Mãos enormes, espalmadas,
Erguendo-se em jeito de quem implora e ameaça,
Corpo tatuado feridas visíveis e invisíveis
Pelos duros chicotes da escravatura…
Torturada e magnífica altiva e mística,
África da cabeça aos pés,
– Ah, essa sou eu! Se quiseres compreender-me
Vem debruçar-te sobre a minha alma de África,
Nos gemidos dos negros no cais
Nos batuques frenéticos do muchopes
Na rebeldia dos machanganas
Na estranha melodia se evolando
Duma canção nativa noite dentro
E nada mais me perguntes,
Se é que me queres conhecer…
Que não sou mais que um búzio de carne
Onde a revolta de África congelou
Seu grito inchado de esperança.
Noémia de Souza / Moçambique 1958
Não resisti a comentar, no blog Elos Clube de Tavira:
Como todas estas sensibilidades parecem agora distantes, todas em redor das mesmas plangências, dos mesmos motivos de dor, de um patrioteirismo fértil em insinuações e imagens sentidas contra o opressor explorador! Será que eram absolutamente sinceras? O certo é que rendem mais fama e proventos!
O Dr. Salles aproveitou a deixa para esclarecer, com bonomia aristocrática em comentário demonstrativo das verdades contidas no meu prosaico comentário:
Noémia de Souza nasceu na Catembe (para quem não conheça Lourenço Marques/Maputo, é assim como Cacilhas relativamente a Lisboa e Niterói relativamente ao Rio de Janeiro), e divagou pelo Brasil, França, etc. Mas quando chegou a hora da verdade, aconchegou-se em Portugal e morreu em Cascais.
Eles falam, falam, falam... mas afinal é a nós que voluntariamente entregam as almas.
Fazem assim muito bem e nós gostamos que assim seja!
Hoje, passados quase 40 anos das Independências, já perceberam que nós estávamos lá para viver deixando viver, o que não terá sido exactamente o que fez quem nos sucedeu no Poder.
Creio - apesar das alfinetadas desta literatura histórica - que a expressão africana lusófona não pode deixar de ser divulgada pois é inequívoca parte da Cultura Lusíada e o Elos propõe-se congregar não só os lusófonos passados e actuais mas também aqueles que já não falam português e que hão-de voltar a fazê-lo. Divulgar a obra dos que viveram em português, é um modo de nos aproximarmos.
Continuemos...
Enviei segundo comentário:
"Pois assim se fazem as cousas". Era o "refrão" aposto por "Pero Marques" à proposta da "Inês Pereira", às cavalitas do marido e dizendo: "Marido, cuco me levades! E mais duas lousas!" Nós somos os cucos. Prestáveis.
Concordou a minha amiga com os dizeres, na ponderação de uma sensatez sem ilusões, tal como a nossa, pois que o Dr. Salles ainda as tem. Por ser mais jovem. E assim me reabilitei a respeito da curiosidade ou da falta dela: Há mais coisas, há outras…
Mas em casa encontrei, em letras garrafais, na primeira página do caderno “Economia”, do Expresso, o seguinte título seguido da notícia sobre a construtora Leirislena:
“Estado investiu E936 mil em empresa que faliu dois meses depois”
Telefonei à minha amiga. E concordámos que as férias, embora quentes das chamas, tinham acabado. Regressáramos ao antes delas, estávamos no nosso elemento. Melhor seria deitarmos tudo para trás das costas.
Não, não há mais coisas entre o céu e a Terra, Horácio, por muito vã que seja a nossa filosofia.
Pelo menos por cá.
Deitemos para trás das costas…
Berta Brás
Uma língua é o lugar donde se vê o mundo e em que se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso, a voz do mar foi a da nossa inquietação.
Virgílio Ferreira (1916 - 1996)
Nasceu em Melo, aldeia do concelho de Gouveia, na Beira Alta, a meio da tarde do dia 28 de Janeiro de 1916, filho de António Augusto Ferreira e de Josefa Ferreira que, em 1920, emigraram para os Estados Unidos da América em busca de melhores condições de vida. Então, o pequeno Vergílio é deixado mais os irmãos ao cuidado de tias maternas. Esta dolorosa separação é descrita em Nitido Nulo. A neve - que virá a ser um dos elementos fundamentais do seu imaginário romanesco é o pano de fundo da infância e adolescência passadas na zona da Serra da Estrela. Aos dez anos, após uma peregrinação a Lourdes, entra no Seminário do Fundão que frequentará durante seis anos. Esta vivência será o tema central de Manhã Submersa.
Em 1932, deixa o Seminário e acaba o Curso Liceal no Liceu da Guarda. Entra para a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, continuando a dedicar-se à poesia, nunca publicada, salvo alguns versos lembrados em Conta-Corrente e, em 1939, escreve o seu primeiro romance, O Caminho Fica Longe. Licenciou-se em Filologia Clássica em 1940. Concluiu o Estágio no Liceu D.João III (1942), em Coimbra. Começa a leccionar em Faro. Publica o ensaio "Teria Camões lido Platão?" e, durante as férias, em Melo, escreve "Onde Tudo Foi Morrendo". Em 1944, passa a leccionar no Liceu de Bragança, publica "Onde Tudo Foi Morrendo" e escreve "Vagão "J"" que, publicou em 1946; no mesmo ano em que se casou, com Regina Kaspryzkowsky, professora polaca que se encontrava em Portugal refugiada da guerra e com quém Vergílio ficaria até à sua morte. Após uma passagem pelo liceu de Évora (onde escreveu o romance Aparição, corria o ano de 1953), fixa-se como docente em Lisboa, leccionando o resto da sua carreira no Liceu Camões.
Em 1980, o realizador Lauro António adapta ao cinema o romance Manhã Submersa e Vergílio Ferreira intrepreta um dos principais papéis, o de Reitor do Seminário, contracenando assim com outros grandes vultos da cena portuguesa.
Vergílio Ferreira morreu no dia 1 de Março de 1996, em sua casa, em Lisboa, na freguesia de Alvalade. O funeral foi realizado no cemitério de Melo, sua terra-natal e, a seu pedido, o caixão foi enterrado na ala do cemitério com vista para a Serra da Estrela.
Para saber mais, v. http://pt.wikipedia.org/wiki/Verg%C3%ADlio_Ferreira
Sua Exa. Embaixadora da República Democrática de Timor Leste, em Portugal,
Natália Carrascalão e a Colares Editora têm o prazer de convidar para o lançamento do livro
CONTOS E LENDAS DA LUSOFONIA
M. Margarida Pereira-Müller
a realizar no próximo dia 31 de Março, às 18H30,
na Embaixada da República Democrática de Timor Leste, em Lisboa.
A apresentação estará a cargo do Dr. Luís Costa.
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Embaixada da República Democrática de Timor Leste
Largo dos Jerónimos, 3, 1.º – 1400-209 LISBOA
Agora que o Parlamento Europeu pôs na ordem do dia a votação das línguas a empregar no regime europeu de patentes muitos dos nossos deputados comportaram-se como mercenários de legiões estrangeiras.
O Português foi excluído com a cumplicidade do nosso governo. Ficou só a ser em inglês, francês e alemão.
Esta iniciativa desrespeita a igualdade e discrimina a capacidade de concorrência no mercado interno. Assim, os mais fortes ficam ainda mais competitivos. Facto é que o Instituto Europeu de Patentes tem seis mil funcionários… Os portugueses que paguem o serviço.
Fonte competente revela que votaram “a favor do interesse nacional, só CDS (Nuno Melo e Diogo Feio), PCP (Ilda Figueiredo e João Ferreira) e dois PSD (Carlos Coelho e Graça Carvalho). Contra o interesse nacional, votou todo o PS e a maioria do PSD”.
Os nossos boys são bem comportados. Depois os países fortes dão-lhes alguns tachos que os compensam do que roubam a Portugal. Depois queixam-se que Portugal vai mal. A democracia diminui em benefício da partidocracia.
Esperemos que os espanhóis levem a coisa a tribunal!
António da Cunha Duarte Justo
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