

Era corrente inventarem-se irregularidades, difamarem-se, excomungarem-se, levantarem-se boatos falsos de adultério e relações amorosas de clérigos com mulheres. Ninguém escapava. Não foi livre de acusações ignóbeis que Afonso de Albuquerque encheu de ouro e prata os cofres da Corte em Lisboa.
Morreu no mar, navegando de Caliate para Goa e, na agonia da morte, já na barra, ainda vislumbra a cidade pela última vez, que em vida tanto tinha amado.
D. Manuel I e depois D. João III não permitem que os ossos de Albuquerque regressem ao solo pátrio. Voltaram quando as vozes de Justiça se levantaram 50 anos depois de sua morte e foram sepultados na capela de Nossa Senhora da Graça que o próprio tinha mandado construir antes de partir para o Oriente.
" De mal com Homens por amor a El-Rei e de mal com El-Rei por amor aos Homens. Bom é acabar". Palavras de Albuquerque em resposta às artimanhas intriguistas usadas pelos "Varões Assinalados", seus contemporâneos, que miseravelmente o traíram e atingiram a sua honra, depois de tantas façanhas heróicas que dotou Portugal.
Bangkok
José Gomes Martins
Diogo Carvalho, sacerdote, de Coimbra, morto num tanque gelado em Xendai, a 22 de Fevereiro de 1624 (festa a 7 de Julho).
Nascido em Coimbra no ano 1578, Diogo Carvalho tornou-se jesuíta aos 16 anos. Desde o seu noviciado, foi germinando em si o desejo de servir a igreja nas missões do Oriente. Assim sendo, enviaram-no para Macau em 1600 a fim de estudar Filosofia e Teologia.
Em 1610, concluídos os estudos, partiu para o Japão, percorrendo incansavelmente as regiões onde os cristãos clandestinamente praticavam o seu culto, reconfortando-os com os sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, vivendo o cristianismo de uma forma tão simples quanto admirável.
Num Japão, onde os cristãos eram perseguidos, acabou por ser martirizado em 1624, num tanque gelado.
Hoje a Companhia, particularmente a Província Portuguesa, celebra este exemplo de fidelidade ao Evangelho tanto nas coisas simples da vida como nos momentos de maior heroicidade. (Andreas Lind, SJ)
A Comemoração do Beato Diogo Carvalho é a 7 de Julho, por ser a data da sua beatificação em 1867.
O Beato Diogo Carvalho nasceu em Coimbra, em 1578. Filho de Álvaro Fernandes e de Margarida Luís, entrou no noviciado da Companhia de Jesus em 1590 e em 1600 partiu para o Oriente. Estudou filosofia e teologia em Macau e aí foi ordenado sacerdote.
Como o Japão era o seu fito, logo que pôde, para aí se dirigiu, disfarçado de mineiro. Acudindo a toda a parte, situou-se, como um ponto central, em certa região mineira, onde pôde arranjar esconderijo para se agruparem uns 60 cristãos, com quem trabalhou.
Visitava as incipientes cristandades, atendia sobretudo em confissão os cristãos já convertidos e baptizados pelo ardor e zelo dos leigos, instruía-os mais profundamente, celebrava-lhes a divina Eucaristia e alimentava-os com o pão dos fortes.
Ainda hoje são impressionantes as cartas por ele enviadas para os seus superiores. Transcrevemos uma, cuja frescura e simplicidade ainda nos encantam, apesar de terem passado já quase quatro séculos. Nela se manifesta o seu ânimo evangelizador:
“Partindo de Oxu para o Reino de Deva, fui direito à cidade de Cabota e ali comecei, com grande segredo, a confessar os cristãos que vinham, pouco a pouco, ter comigo, e juntamente tratei do modo que teria [possível] para visitar os cristãos desterrados que estão em Tugara. Ao terceiro dia, veio acaso ter comigo um cristão, meu conhecido. Logo entendi que Deus mo mandava para me levar a Yezzo. E, porque a embarcação estava a pique e eu tinha ainda muita gente que confessar em Cabota, conclui em três ou quatro dias o que havia de fazer em dez ou doze, confessando de dia e de noite, passando as noites sem dormir, porque mudava o lugar na mesma noite, por serem os concursos perigosos, em tal tempo.
“Concluídas as confissões, me fiz à vela com nome de mineiro que vai cavar nas minas. Com nome de mineiro me embarquei eu, porque os que passam a Yezzo, ou são mercadores ou mineiros. Trataram-me todos com muita cortesia e honra, sem nunca me conhecerem por estrangeiro. As horas canónicas [liturgia das horas] rezava-as pela manhã cedo com a primeira luz, quando todos ainda dormiam, metendo a cabeça e o breviário [livro da liturgia] debaixo do cobertor e deixando entrar alguma pouca luz. Chegámos enfim a Muçumay, recolhendo-me logo em casa de um nosso cristão antigo...
“Ali disse as primeiras missas que em Yezzo se disseram. A primeira foi no dia de Nossa Senhora das Neves; parece que se dignará esta Senhora de tomar debaixo da sua protecção aquele reino. Foi grande a alegria com que os cristãos me receberam.
“Outros que, finalmente, lá se tinham baptizado, com grande devoção ouviam as primeiras missas e, ouvida a prática da confissão, se confessavam com muita consolação sua e também minha, por ver o fervor com que o faziam”.
Num dia de neve, foi descoberto pelas pegadas deixadas no chão, juntamente com mais dez cristãos. Levados a Xendai, capital do reino de Oxu, foram os 11 confessores de Cristo sujeitos ao novo tormento de tanques gelados, onde, um após outro, foram sucumbindo, sendo o último o Padre Diogo de Carvalho. Este, como bom pastor, quis estar ao lado dos outros, acompanhando-os com orações e exortações, até os ver todos entrados e seguros no aprisco do Pai do Céu, depois de repetidas imersões, durante cinco dias. Encerrou o cortejo o zeloso chefe e santo missionário, Beato Diogo de Carvalho, a 22 de Fevereiro de 1624. A beatificação realizou-a Pio IX em 1867.
Eis uma breve narração contemporânea das últimas horas que este grande missionário viveu no tormento do “regelo” e da morte que então sofreu:
“Depois de três horas deste cruel tormento [o «regelo»], os tiraram do lago com grande trabalho por estarem enregelados. Os mais se estenderam sobre a areia para tomarem algum alívio; porém o Padre se assentou sobre os pés cruzados, compôs as mãos diante do peito e se pôs em oração.
“Estando o Padre naquele belo sossego de sua alma, se chegou a ele um moço do Governador e lhe disse:
- Estes tormentos te deu o Governador por seres cristão; mas se queres deixar de o ser, ele te oferece a vida.
- Nem quero nem posso - respondeu o Padre - negar a quem reconheço por Senhor de tudo, nem deixar a sua lei em que só há salvação.
- Enquanto viver - respondeu o Padre - tal coisa não farei; antes os persuadirei sempre a dar as vidas por Cristo.
- Cometeste nisto - replicou o bárbaro - um grande pecado, por haver recusado obedecer ao Xógum, e por tal culpa vos há-de moer a todos.
- Pecado - disse o Padre - cometeria eu, se lhes aconselhasse o contrário, porque é coisa santa não obedecer aos homens quando mandam alguma coisa contra Deus.
- E se te atormentassem de novo - disse o gentio - e te queimarem vivo, não mudarás essa teima?
- Se me queimarem vivo - respondeu o Padre - por não deixar a fé que ensino, o terei a grande beneficio de Deus.
Foram então levados ao tribunal, onde todos confessaram a sua fé em Cristo e afirmaram não poderem renegar a fé, pois respeitavam mais Deus que os homens.
Ameaçados com o serem lançados à fogueira, todos disseram ser para eles um grande benefício de Deus.
Chegados os vinte e dois dias [de Fevereiro], depois do meio-dia, foram tirados da prisão, tendo para si que seriam queimados vivos; mas os gentios os tornaram a meter no mesmo lago, atados aos paus como antes.
Foram morrendo pouco a pouco. O beato Diogo ia-os animando, com palavras de fé e consolação espiritual. Todos eles foram morrendo pouco a pouco. Por fim, depois de dez horas de martírio nas águas geladas, entregou a sua alma a Deus.
Eram já cinco horas da noite quando os gentios se retiraram, ficando ali alguns cristãos, que afirmaram, depois, que o Padre Diogo Carvalho vivera até cerca da meia-noite, tendo sofrido dez horas aquele horrível tormento.
P. João Caniço, SJ
O elmo de D. Sebastião regressou a Portugal no início de 2011
O préstito fúnebre que acompanhou o corpo do Rei D. Sebastião de Faro até ao Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, sob a direcção do vedor Francisco Barreto de Lima, era composto pelos seguintes fidalgos nomeados por Filipe I:
Resta agora saber se o corpo transportado e homenageado era efectivamente o do jovem Rei D. Sebastião ou se tudo não passou duma fantochada para justificar a subida de Filipe II de Espanha ao trono de Portugal.
Será de facto o corpo do Rei, o que está no túmulo?
Julho de 2011
Henrique Salles da Fonseca
Afonso de Albuquerque (Alhandra, 1453 — Goa, 16 de Dezembro de 1515)
CELEBRAÇÃO DOS 500 ANOS DA CHEGADA DOS PORTUGUESES À TAILÂNDIA
No passado dia 7 de Julho, teve lugar no Museu Nacional da Tailândia (Bangcok) um evento cultural com o genérico "Arte Legacy", integrado no programa das celebrações dos 500 anos da chegada (1511) dos Portugueses ao Antigo Reino do Sião, em Ayuthaya.
Leia aqui http://aquitailandia.blogspot.com/2011/07/tailandia-eventocultural-integrado-nas.html
Manuel Emílio Camarinhas, proprietário do restaurante «Os Conjurados», em Vila Viçosa, conhece 37 receitas de doces conventuais oriundas da meia dúzia de Conventos que in illo temporae existiram naquela Vila. Julgo que na lista se vão sucedendo uns aos outros de modo a que nenhum deles fique esquecido nem a cozinheira com o jeito encarquilhado.
E enquanto nos apresentava as fumegantes vitualhas, serviu-nos a agradável conversa que tivemos por companhia ao jantar. Eis como ficámos a saber coisas que não constam de todos os livros da nossa História.
A questão está então em saber quem ia para os Conventos inventar tais receitas. Não havendo resposta simples numa Igreja feita sobretudo por homens em que à mulher sempre esteve reservado um papel marginal – pese embora a grande veneração à Mãe de Deus – meditemos um pouco...
Para os conventos masculinos iam sobretudo os que se sentiam com vocação para o Serviço Divino mas aos femininos, para além de acolherem verdadeiras vocações, cabia também uma função de amparo a damas solteiras, a viúvas de militares (e, portanto, relativamente pobres) e a quem tivesse tido comportamento social menos canónico.
Não se estranhe, pois, a profusão de conventos, sobretudo femininos.
Foi nesse conceito genérico de grande vocação social que, por volta de 1514, o IV Duque de Bragança, D. Jaime, resolveu fundar nas vizinhanças do seu paço uma casa religiosa que servisse de Panteão às Senhoras da sua Casa e onde recolhessem as filhas do seu segundo casamento que não pudessem casar condignamente.
O Real Convento das Chagas de Cristo foi inaugurado em Vila Viçosa no dia 8 de Fevereiro de 1533 nele dando entrada nove religiosas tendo como Abadessa Madre Maria de S. Tomé, irmã da Duquesa (D. Joana de Mendonça) já então viúva de D. Jaime e mãe do novo Duque, D. Teodósio. O mosteiro possuía tenças próprias consignadas vitaliciamente pelas famílias e tutores das professas, tendo a maior parte delas pago a construção de aposentos privativos.
Permita-me o leitor que lhe chame a atenção para o nome religioso adoptado pela Madre Abadessa…
Mistério?
Cai o mistério se lhe contar que houve um brioso militar então na casa dos 30 anos de idade que, sendo nomeado para as lutas que Portugal então travava no norte de África, prometeu que, se sobrevivesse à campanha de Azamor e regressasse são ao reino, faria rigorosa penitência de um mês no Real Convento das Chagas de Cristo, em Vila Viçosa.
Tomé de Sousa se chamava esse brioso militar e, sobrevivendo às lutas africanas, cumpriu a promessa de modo tão empenhado que até fez um filho à Madre Abadessa.
(*)
Por aqui passaram Tomé e Tomé
E foi Gonçalo de Sousa – «o bitomé», por ser filho de dois Tomés – que arcou com a bastardia.
Mas o filho não era ilegítimo; os pais, sim.
Março de 2011
Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA:
Convento das Chagas – http://www.portugalvirtual.pt/pousadas/vila.vicosa/pt/index.html
Tomé de Sousa – http://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A9_de_Sousa
É dali, também, planeada a expansão lusa para a Costa do Coramandel, a Ilha do Ceilão, as aos Sul da Baía de Bengala até às do extremo Oriente. Bastião Pires, também conhecido por Sebastião, chega a Cochim nos anos de 1512. Em Lisboa, foi pároco de prestígio, confessor e Capelão de Sua Majestade Dom Manuel I.
O monarca Venturoso tem em Bastião um clérigo de sua confiança, nomeou-o Vigário-Geral de Cochim e manda segui-lo para a Índia arrebanhar cristãos; numa terra onde havia muitos infiéis, inclusivamente mouros, de tez escura, iguais aos de Marrocos e Tânger, que imensos trabalhos tinham dado aos portugueses escorraçá-los do Algarve para o Norte de África.
Trocou correspondência com o Rei Dom Manuel I; foi a Lisboa apresentar-lhe "queixinhas", dando-lhe conta do pouco zelo que à sua
fazenda lhe era dado na Ilha da Pimenta. Voltou à Índia. E, depois da morte do seu Rei protector, foi acusado: de crimes de peculato, de
"mulherengo" e acabou por desaparecer da arena política/religiosa da Índia.
Ficaria por lá ou Lopo Soares de Albergaria enviou-o para Lisboa a fim de prestar contas do que foi acusado. Pobre do padre Bastião
Pires.... que não conseguiu libertar-se da vingança dos adversários políticos do Grande Afonso Albuquerque depois de ter morrido. Isto acontece porque os dois tinham sido amigos.
A intriga era coisa comum entre os portugueses da época. Todos desejavam - fosse como fosse -, enriquecer sem escrúpulos. Não vamos
julgar o pároco Bastião Pires, tão-pouco condená-lo, pelas acusações que lhe foram feitas há quase 500 anos. Para atingirem objectivos, os fidalgos vaidosos, a gente de confiança de el-Rei, que depois o traiam na Índia, não olhavam a meios para regressarem poderosos a Lisboa.
Bangkok
José Gomes Martins
(*)
Por ocasião da sua Canonização, em Roma, pelo Papa Bento XVI
Todos os dias se cumpre Portugal,
Desde um sonho cristão, também guerreiro,
Na cruz que nos levou ao mundo inteiro
A Língua Portuguesa é Universal,
Une o Ocidental Mundo ao Oriental,
Dos Oceanos fez só um verdadeiro,
No Mar o Português foi sempre primeiro
E na Terra sempre tentou ser celestial!
Fez o grande percurso à sua maneira,
Heróis houve que ficaram na História,
Guerreiros, Santos, Poetas e a Padeira
De Aljubarrota traz viva memória
Do Santo Guerreiro Álvares Pereira,
Cumpriu Portugal – Filho da Vitória!
Lisboa, 26 de Abril de 2009
José Custódio Madaleno Geraldo
(*)
Igreja Matriz de S. Sebastião da Pedreira - Lisboa
O PATRIARCA DA ETIÓPIA
Da embaixada de D. Rodrigo de Lima (1520-1526) tinham ficado na Etiópia dois dos elementos que a constituíam: o pintor lisboeta Lázaro de Andrade e o médico Mestre João.
Em relação ao primeiro pouco se sabe mas quanto ao físico, a situação é, felizmente, bem diversa.
De origem galega, João Bermudes embarcou a primeira vez para a Índia em Abril de 1515 na armada de Lopo Soares de Albergaria. Em 1520 desembarcou na Etiópia onde permaneceu até 1535, ano em que viajou por terra de regresso a Portugal. Aqui chegado em 1538, logo decidiu regressar à Etiópia mas acabou retido por doença só regressando à Índia no ano seguinte. Desembarcou novamente na Etiópia em 1541 ali permanecendo até 1559, ano em que regressou definitivamente a Portugal.
E o que fez ele durante os 33 anos que viveu na Etiópia?
Presume-se que de 1526 a 1535 tenha exercido a sua profissão de físico, aquela a que hoje chamamos de médico.
Contudo, em 1535 encontrando-se o Patriarca da Igreja Etíope, Abuna Marcos, moribundo devido à muita idade, o Imperador «pediu» (evidente eufemismo de «mandou») que ordenasse João Bermudes como seu sucessor e futuro Patriarca.
De nada terão valido os rogos de João Bermudes junto do Imperador e muito menos os argumentos da sua condição laica junto do moribundo: foi ordenado pelo velho Patriarca e, à morte deste, empossado no cargo pelo próprio Imperador.
Nada consta dos registos históricos até hoje conhecidos sobre quaisquer reclamações que os fiéis possam ter feito em relação a alguma irregularidade cerimonial ou sequer a menos ortodoxas argumentações teológicas por parte do médico recém-arvorado em Chefe máximo da Igreja Etíope. Como terá D. João Bermudes, o novo Abuna, conseguido conciliar a filosofia trinitária da Igreja Romana – da qual aprendera na catequese e ao longo da vida adulta – com a doutrina monofisista da Igreja Etíope, eis um mistério que seria interessante algum investigador da História da Diplomacia tentar descortinar.
O que se sabe é que mal foi empossado, logo o Imperador lhe «pediu» que chefiasse embaixada a Roma e, daí, a Lisboa: (…) & mais me rogaua que por my, & por elle, & todos seus Reynos fosse a Roma a dar obediecia ao S. Padre: e dahi viesse a Portugal a dar cõcrusã a hua ebaixada q qua tinha mandada per hu homem daquella terra chamado Tegazauo (…)
Da diligência junto da Santa Sé, conta o próprio que: (…) cheguey a Roma presidindo na See Apostólica o Papa Paulo terceiro o qual me recebeo cõ muyta clemência & fauor, & me confirmou tudo o q de la trazia feyto, & a meu requerimento tornou a retificar tudo, & me mandou assentar na cathedra de Alexandria, & que me intitulasse Patriarcha, & Pontífice daqlla See (…)
Zagazabo (e não Tegazauo como lhe chamara D. João Bermudes), bispo etíope, chefiara a segunda embaixada do Preste João a Lisboa cá chegando em 1527. O objectivo era o mesmo do da anterior: estabelecer uma aliança que permitisse assegurar a sobrevivência da Etiópia como reino cristão totalmente cercado por aguerridas potências muçulmanas.
Tinham-se passado cerca de 10 anos e o Imperador não tinha notícias do seu embaixador. Eis ao que vinha D. João Bermudes: saber se Zagazabo era vivo e se a desejada aliança com Portugal era possível.
D. João III recebeu muito bem a embaixada do Preste João e logo tratou de lhe juntar Zagazabo que por aí andava no «bem bom» sem nada fazer de útil quer para Portugal quer para o Imperador da Abissínia, como então se chamava à Etiópia. D. João Bermudes não nos deixa dúvidas sobre o assunto: (…) que auia doze annos que qua estava, se negociar cousa algua por sua mera negligencia. Pello q o Emperador Onadinguel me mandou q lhe tirasse o carrego de embaixador, & o prendesse & levasse comigo preso.
Dos pedidos do Preste João ao nosso Rei, há a salientar – para além de soldados e armas – o do casamento dos filhos dos dois monarcas a fim de aproximar e unir os dois povos e o do envio de técnicos que o ajudassem a desviar o curso do Nilo assim votando à desertificação o seu inimigo do norte, o Egipto.
Conta-nos a História que D. João III não casou o seu filho com nenhuma princesa etíope; conta-nos a realidade actual que o Nilo continua a correr pelo curso que a Natureza lhe deu.
Como resultado da sua vinda a Lisboa, D. João Bermudes conseguiu uma força expedicionária de 450 homens que muito ajudaram a preservar a segurança etíope.
Chegados à Etiópia em 1541, assumiu o comando dessa força expedicionária D. Cristóvão da Gama, filho do célebre navegador e por lá andaram a acudir aos interesses do Imperador Abexim até que, já fartos de muitas tropelias, constatando que as riquezas do «reino do ouro, do incenso e da mirra» não passavam de pura imaginação, decidiram regressar a Portugal. Mas o Imperador não os queria deixar partir e tiveram que fugir. Foi nessa fuga que morreu em combate D. Cristóvão da Gama. D. João Bermudes já se tinha livrado da mitra e do báculo conseguindo chegar ao Mar Vermelho onde, em Massuá, foi recolhido por uma armada portuguesa. Corria o ano de 1559. Por Diu e por Goa, viajou para Lisboa...
Finalmente em sossego, entreteve-se D. João a escrever as memórias, livro que dedicou a D. Sebastião, ali relatando os acontecimentos mais atribulados da sua vida de grande aventureiro.
Faleceu em paz no dia 30 de Março de 1570 em S. Sebastião da Pedreira, então arrabalde de Lisboa em cuja igreja foi sepultado e onde ainda hoje pode ser visitado no seu túmulo. Mais exactamente, no fim da coxia central, na base do degrau fronteiro ao altar-mor.
Depois de tanta tropelia, bem merece que lhe votemos: requiescat in pace.
Lisboa, Abril de 2011
Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA:
Curto, Pedro Mota – HISTÓRIA DOS PORTUGUESES NA ETIÓPIA (1490-1640), Ed. Campo das Letras, Outubro de 2008, (pág. 193 e seg.
(*)
http://www.pbase.com/image/108171571
Ribeira das Naus no início do século XX
O Convento de S. Francisco é a actual Escola Superior de Belas Artes e o Museu do Chiado
http://videos.publico.pt/Default.aspx?Id=93cdb214-9f5a-4773-8836-02673710874f
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