Quarta-feira, 27 de Julho de 2011

Beato Diogo de Carvalho

 

 

Diogo Carvalho, sacerdote, de Coimbra, morto num tanque gelado em Xendai, a 22 de Fevereiro de 1624 (festa a 7 de Julho).

 

Nascido em Coimbra no ano 1578, Diogo Carvalho tornou-se jesuíta aos 16 anos. Desde o seu noviciado, foi germinando em si o desejo de servir a igreja nas missões do Oriente. Assim sendo, enviaram-no para Macau em 1600 a fim de estudar Filosofia e Teologia.

 

Em 1610, concluídos os estudos, partiu para o Japão, percorrendo incansavelmente as regiões onde os cristãos clandestinamente praticavam o seu culto, reconfortando-os com os sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, vivendo o cristianismo de uma forma tão simples quanto admirável.

 

Num Japão, onde os cristãos eram perseguidos, acabou por ser martirizado em 1624, num tanque gelado.

 

Hoje a Companhia, particularmente a Província Portuguesa, celebra este exemplo de fidelidade ao Evangelho tanto nas coisas simples da vida como nos momentos de maior heroicidade. (Andreas Lind, SJ)

 

 

 

A Comemoração do Beato Diogo Carvalho é a 7 de Julho, por ser a data da sua beatificação em 1867.

           

O Beato Diogo Carvalho nasceu em Coimbra, em 1578. Filho de Álvaro Fernandes e de Margarida Luís, entrou no noviciado da Companhia de Jesus em 1590 e em 1600 partiu para o Oriente. Estudou filosofia e teologia em Macau e aí foi ordenado sacerdote. 

 

Como o Japão era o seu fito, logo que pôde, para aí se dirigiu, disfarçado de mineiro. Acudindo a toda a parte, situou-se, como um ponto central, em certa região mineira, onde pôde arranjar esconderijo para se agruparem uns 60 cristãos, com quem trabalhou.

 

Visitava as incipientes cristandades, atendia sobretudo em confissão os cristãos já convertidos e baptizados pelo ardor e zelo dos leigos, instruía-os mais profundamente, celebrava-lhes a divina Eucaristia e alimentava-os com o pão dos fortes.

 

Ainda hoje são impressionantes as cartas por ele enviadas para os seus superiores. Transcrevemos uma, cuja frescura e simplicidade ainda nos encantam, apesar de terem passado já quase quatro séculos. Nela se manifesta o seu ânimo evangelizador:

 

“Partindo de Oxu para o Reino de Deva, fui direito à cidade de Cabota e ali comecei, com grande segredo, a confessar os cristãos que vinham, pouco a pouco, ter comigo, e juntamente tratei do modo que teria [possível] para visitar os cristãos desterrados que estão em Tugara. Ao terceiro dia, veio acaso ter comigo um cristão, meu conhecido. Logo entendi que Deus mo mandava para me levar a Yezzo. E, porque a embarcação estava a pique e eu tinha ainda muita gente que confessar em Cabota, conclui em três ou quatro dias o que havia de fazer em dez ou doze, confessando de dia e de noite, passando as noites sem dormir, porque mudava o lugar na mesma noite, por serem os concursos perigosos, em tal tempo.

 

“Concluídas as confissões, me fiz à vela com nome de mineiro que vai cavar nas minas. Com nome de mineiro me embarquei eu, porque os que passam a Yezzo, ou são mercadores ou mineiros. Trataram-me todos com muita cortesia e honra, sem nunca me conhecerem por estrangeiro. As horas canónicas [liturgia das horas] rezava-as pela manhã cedo com a primeira luz, quando todos ainda dormiam, metendo a cabeça e o breviário [livro da liturgia] debaixo do cobertor e deixando entrar alguma pouca luz. Chegámos enfim a Muçumay, recolhendo-me logo em casa de um nosso cristão antigo...

 

“Ali disse as primeiras missas que em Yezzo se disseram. A primeira foi no dia de Nossa Senhora das Neves; parece que se dignará esta Senhora de tomar debaixo da sua protecção aquele reino. Foi grande a alegria com que os cristãos me receberam.

 

“Outros que, finalmente, lá se tinham baptizado, com grande devoção ouviam as primeiras missas e, ouvida a prática da confissão, se confessavam com muita consolação sua e também minha, por ver o fervor com que o faziam”.

 

Num dia de neve, foi descoberto pelas pegadas deixadas no chão, juntamente com mais dez cristãos. Levados a Xendai, capital do reino de Oxu, foram os 11 confessores de Cristo sujeitos ao novo tormento de tanques gelados, onde, um após outro, foram sucumbindo, sendo o último o Padre Diogo de Carvalho. Este, como bom pastor, quis estar ao lado dos outros, acompanhando-os com orações e exortações, até os ver todos entrados e seguros no aprisco do Pai do Céu, depois de repetidas imersões, durante cinco dias. Encerrou o cortejo o zeloso chefe e santo missionário, Beato Diogo de Carvalho, a 22 de Fevereiro de 1624. A beatificação realizou-a Pio IX em 1867.

 

Eis uma breve narração contemporânea das últimas horas que este grande missionário viveu no tormento do “regelo” e da morte que então sofreu:

 

“Depois de três horas deste cruel tormento [o «regelo»], os tiraram do lago com grande trabalho por estarem enregelados. Os mais se estenderam sobre a areia para tomarem algum alívio; porém o Padre se assentou sobre os pés cruzados, compôs as mãos diante do peito e se pôs em oração.

 

“Estando o Padre naquele belo sossego de sua alma, se chegou a ele um moço do Governador e lhe disse:

 

- Estes tormentos te deu o Governador por seres cristão; mas se queres deixar de o ser, ele te oferece a vida.
- Nem quero nem posso - respondeu o Padre - negar a quem reconheço por Senhor de tudo, nem deixar a sua lei em que só há salvação.           

- Enquanto viver - respondeu o Padre - tal coisa não farei; antes os persuadirei sempre a dar as vidas por Cristo.

- Cometeste nisto - replicou o bárbaro - um grande pecado, por haver recusado obedecer ao Xógum, e por tal culpa vos há-de moer a todos.

- Pecado - disse o Padre - cometeria eu, se lhes aconselhasse o contrário, porque é coisa santa não obedecer aos homens quando mandam alguma coisa contra Deus.

- E se te atormentassem de novo - disse o gentio - e te queimarem vivo, não mudarás essa teima?

- Se me queimarem vivo - respondeu o Padre - por não deixar a fé que ensino, o terei a grande beneficio de Deus.

 

Foram então levados ao tribunal, onde todos confessaram a sua fé em Cristo e afirmaram não poderem renegar a fé, pois respeitavam mais Deus que os homens.

 

Ameaçados com o serem lançados à fogueira, todos disseram ser para eles um grande benefício de Deus.

 

Chegados os vinte e dois dias [de Fevereiro], depois do meio-dia, foram tirados da prisão, tendo para si que seriam queimados vivos; mas os gentios os tornaram a meter no mesmo lago, atados aos paus como antes.

 

Foram morrendo pouco a pouco. O beato Diogo ia-os animando, com palavras de fé e consolação espiritual. Todos eles foram morrendo pouco a pouco. Por fim, depois de dez horas de martírio nas águas geladas, entregou a sua alma a Deus.

 

Eram já cinco horas da noite quando os gentios se retiraram, ficando ali alguns cristãos, que afirmaram, depois, que o Padre Diogo Carvalho vivera até cerca da meia-noite, tendo sofrido dez horas aquele horrível tormento.

 

P. João Caniço, SJ

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publicado por elosclubedelisboa às 16:25
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