(*)
Em 14 de Maio, o Real Gabinete Português de Leitura completou 174 anos de existência. Ao correr deste tempo, caiu o Império, foi implantada a República, sucederam-se os governos – e o mundo inteiro passou por transformações e mudanças profundas, desde o traçado da geografia política ao crescimento demográfico, desde os avanços científicos e tecnológicos à economia e às estruturas sociais, desde as crenças e os costumes, à produção e à riqueza.
Poucas são as instituições que conseguem atravessar um ciclo existencial tão longo, sem perderem a identidade ou desaparecerem, principalmente quando não têm escoras oficiais para serem sustentadas. Fenómeno idêntico acontece com as famílias, quando morrem os patriarcas; ou com as empresas, quando perdem os fundadores e os pioneiros. Quase sempre definham e extinguem-se.
Por isso, não deixa de ser notável que uma associação, fundada poucos anos depois de proclamada a Independência do Brasil, por algumas dezenas de emigrantes portugueses, com a finalidade de difundir a Cultura e o Conhecimento entre aqueles compatriotas que chegavam ao país de destino com “poucas letras”, tenha resistido às transformações e reformas que moldaram o Brasil que somos hoje.
Na base deste fenómeno de sobrevivência – íamos escrever “milagre” – do Real Gabinete Português de Leitura, podemos apontar diversas causas, mas duas foram fundamentais e permanentes: o húmus do patriotismo e o preceito da gratidão. O primeiro, fez com que uma comunidade reunisse e colocasse ao alcance de qualquer um do povo o melhor que o génio lusitano já produziu: a criação de seus escritores, o cântico da sua Epopeia e a alquimia da sua Arte. Para isso, juntou livros e manuscritos, obras raras e cimélios quinhentistas; reproduziu em pedra de liós, no centro da Cidade, os recortes manuelinos do Mosteiro dos Jerónimos; e construiu um “templo camoniano” para louvar todos aqueles “em quem poder não teve a morte”.
Essa é a expressão do patriotismo e o culto da lusitanidade que atravessaram gerações. Tudo se fazia no Real Gabinete Português de Leitura por amor e para louvação da terra de origem: as obras adquiridas, os patrimónios investidos, as colecções guardadas. Mas a juntar-se a esse húmus patriótico estava uma segunda causa, que foi o reconhecimento ao Brasil. Este, senhor de seu destino desde 1822, continuava a receber, todos os anos, milhares de portugueses, que vinham realizar seus projectos de vida. Nas pedras rosadas da fachada; nas estátuas dos Poetas e dos Navegadores; nas estantes dos livros e nas pinturas de José Malhoa; no Salão dos Brasões e no “Altar da Pátria”, na “Clavis Prophetarum” do Padre António Vieira e na edição “princeps” de “Os Lusíadas”; nos autógrafos do “Amor de Perdição”, e do “Amor só tu por amor” de Machado de Assis – estavam patentes os símbolos da gratidão dos portugueses ao País de acolhimento. E como essa gratidão é eterna, também eterno será o Real Gabinete Português de Leitura: ontem, considerado “sacrário” dos emigrantes que chegavam, hoje, transformado em “oficina” dos mestres e dos jovens que gostam do “Portugal a haver”.
A. Gomes da Costa
Presidente da Federação das Associações Portuguesas e Luso Brasileiras
In Revista Lusofonia, São Paulo
. TE DEUM – JOÃO DOMINGOS B...
. Organização Mundial de Me...
. GALAICO-PORTUGUÊS - LÍNGU...
. ELISMO
. LUSOFONIA
. Siciedade Histórica da Independência de Portugal
. Malaca
. Damão
. Academia Galega de Língua Portuguesa
. CPLP
. Observatório dos Luso-Descendentes
. CULTURA