Domingo, 19 de Junho de 2011

RICARDO SEVERO - 11

 

 

 

DISCURSO EM 3 DE SETEMBRO DE 1968 NA POSSE DE SÓCIO DO
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO PAULO, PELO

CÔNSUL-GERAL DE PORTUGAL

DR. LUÍS SOARES DE OLIVEIRA

TENDO COMO PATRONO RICARDO SEVERO

 

 

PROFETA DA COMUNIDADE LUSO-BRASILEIRA

 

 

 

Mas Severo foi mais longe na sua compreensão do problema. O conhecimento profundo que tinha da génese lusitana e das expressões modernas do fenómeno, através da sua repetição no trópico africano e americano, permitiu-lhe uma visão segura do futuro inevitável das duas pátrias.

 

 

Repito aqui um trecho de artigo seu publicado em «O Estado de São Paulo» a 5 de Dezembro de 1918 e que, quase meio século depois, nos mostra a sua flagrante actualidade:

«O Oceano Atlântico representará, na época actual, o mesmo papel que o Mediterrâneo no período clássico do Ocidente. Em torno deste grande mar que banha três continentes, se desenvolverão os périplos da nova civilização so século XX. Os países que o marginam, com os seus vastos empórios, formarão uma cadeia cujos elos serão ligados por uma aliança de mútua conveniência, de similar política comercial e económica. Portugal tem na margem europeia um dos mais bem situados empórios, ligado a todos os centros, o Continente; na África Ocidental, os seus portos dominam um vastíssimo “hinterland”. O Brasil ocupa uma grande parte da margem americana do mesmo mar; a sua política de expansão tem de tomar o rumo do Atlântico; poderá fechar essa cadeia que representará a mais fecunda aliança do mundo dando fraternalmente as mãos ao velho Portugal. O porto franco de Lisboa e os mercados das vastas províncias portuguesas, oferecem os termos desse convénio luso-brasileiro que será para os dois países uma solução de mútuo desenvolvimento e progresso dentro do comércio mundial que abraça o grande Oceano».

 

*  *  *

 

A luz que durante 70 anos raiou tão brilhantemente sobre Portugal e sobre o Brasil, um dia extinguiu-se. Continuam entre nós os reflexos vivos das suas obras. Mas o homem, esse, inseriu-se no passado e tornou-se objecto da nossa saudade e do nosso culto. As suas obras e o seu pensamento constituíram-se em património de duas pátrias que se querem entre si como ele quis a ambas.

 

Ricardo Severo morreu como viveu: feliz, sem martírio e nas boas graças do seu belo destino. Símbolo de uma época, morreu com ela quando se desenhavam as primeiras escaramuças do conflito mundial que iria transformar o mundo alterando-lhe os equilíbrios e transformando-lhe a face. Ricardo Severo saberia, contudo, que o povo, esse fundo de rocha ígnea, permaneceria inalterável e insensível às erosões da superfície. E a grei que não se engana, amá-lo-á sempre pois sabe que Ricardo Severo lhe pertencia e que, se subiu tão alto nas escadas da glória, foi porque tudo o que fez foi feito «pola grey».

 

FIM

 

Luís Soares de Oliveira.bmp Luís Soares de Oliveira

publicado por elosclubedelisboa às 09:41
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