Francisco José de Sousa Soares de Andrea*, se a memória me não falha, era o nome do valente general que pacificou o Pará, por ocasião da cabanagem. Devi a esse homem distincto a satisfação de o ter conhecido pessoalmente, porque elle dignou-se ir de propósito á casa onde eu era caixeiro para me conhecer tambem. Eu tinha apenas onze annos (1838); mas creio poder affirmar, sem immodéstia, que n’aquele tempo, as duas celebridades mais notáveis do Pará (Belém) eram o chefe da província... e eu. Elle distinguia-se pela energia com que batia os cabanos, pelo rigor que mantinha a disciplina militar e provia á defeza da cidade, ainda ameaçada por bandos de facínoras, espalhados pelos rios ou matas próximas; eu, pela audácia com que punia todas as pessoas que me insultavam, sem attenção ao seu tamanho, qualidade, sexo, ou numero, e pela perícia com que lhes qubrava as cabeças, com os pesos das balanças ou com as garrafas de aguardente. A fama do general offuscava um pouco a minha, attendendo-se á posição mais elevada do presidente da província; mas os caixeiros da cidade affrmavam que, em vista da minha idade, eu era muito maior que Andrea!
Elle costumava ir frequentemente a casa de um meu vizinho, chamado João Antonio Rodrigues Martins, irmão ou primo do barão de Jaguarari, que ficava fronteira ao estabelecimento onde eu era caixeiro. Das janellas d’essa casa via-se toda a rua da Paixão, até ao largo do palácio do governo; passavam por ali ás vezes os presos cabanos, agarrados nos matos mais próximos de Santo Antonio, Reducto e Paúl de Agua, e não raro era que o presidente desse instrucções ás escoltas que os conduziam, quando lhes passavam por baixo das janellas, mandando fazer nesses assassinos justiça summaria.
Dois soldados conduziam um preso, segurando-o cada um do seu lado, pela cintura, e levando as baionetas desembainhadas. Andrea, que estava conversando ao pé da janella, viu-os e gritou:
- Ó soldado! Quem é esse homem?
- É o Diamante, meu general.
- O Diamante?!
- Sim, senhor.
- Tens a certeza d’isso?
O preso, que era homem de cor, entre preto e mulato, dos que no paiz denominam cafuzes, alto, musculoso, de olhar feroz e atrevido, voltou-se para a janella, onde se tinha reunido a família da casa, e, depois de encarar por um instante o general e as outras pessoas, disse:
- Vosserencia custa á capacitá que sô eu mesmo? Tem razão; Diámante não deixava apanhá por seu sordado, si não tivesse caído quando corria em Páu d’Agua. Agora pode matá Ere, que já vingou, picando muito sordado de vosserencia. E tem pena de não matá vosserencia mesmo.
Toda a família se retirou para dentro, revoltada com a insolência do preso. Andrea disse para o soldado, deitando-lhe á rua um bilhete, rapidamente escripto a lapis
- "Dize lá ao ajudante, Que sendo esse o Diamante, o mande já lapidar".
- Não sei se elle teve a intenção de fazer versos; mas as palavras soaram-me do modo por que as escrevi nos meus apontamentos, há mais de trinta anos, e como transcrevo agora. Penso que Andrea não desgostava de rimar... mas corria como certo, no Pará, onde havia milhares de anedoctas a respeito de Andrea, umas comicas e com pilhas de graça, outras dramáticas ou trágicas. Em todas as províncias onde elle exerceu comando, ficou um homem lendário. Com relação ao Pará, foram immensos os serviços que ali prestou, e sem a sua grande energia não se tinha pacificado a província em tão pouco tempo. Elle saía de noite, disfarçado, para rondar as guardas e sentinelas, e era implacável com as apanhasse dormindo. Alguns negociantes, portuguezes e brazileiros, que tinham sido obrigados a sentar praça n’um corpo de policia, para defeza da cidade e sua própria, foram por vezes duramente punidos, até com pauladas, por infracções de disciplina! Os cabanos estavam costumados a zombar das auctoridades legaes, que dormiam muito; por isso só quando que Andrea os lapidava sem piedade, é que se convenceram de que havia passado o seu S. Martinho.
Resta-me explicar por que motivo tive a honra de ser visitado por aquelle homem distincto. No prefacio do “Cantos Matutinos” ** referi uma das minhas proezas, a qual foi eu ter batido com uma grande colher, cheia de manteiga, na cara de um escravo do presidente do Pará. Quando o mulato recolhia a(o) palácio, pingado desde a cabeça até aos pés, e com os olhos vermelhos do sal da manteiga, encontrou o senhor, que se dirigia para casa dos meus vizinhos. Sabedor do caso, o general entrou no estabelecimento, onde eu estava chorando, com as dores das palmatoadas que recebêra do meu ingrato patrão, por premio de tão glorioso feito.
- Foi o senhor quem quebrou a cara do meu escravo?
- Fui; e por causa daquelle patife, apanhei duas dúzias de palmatoadas!...
- Bem merecidas!
- O senhor diz-me isso?!
- Aposto que me quer dar também com a colhér de manteiga?!
- Chame-me gallego, marinheiro, bicudo ou pé de chumbo***, como fez o biltre do seu escravo... e verá!
Andrea quis sorrir-se e fez uma careta medonha. O motivo, que só mais tarde comprehendi, provinha de elle também ser portuguez; mas fizera-se brazileiro e não gostava que lhe lembrassem essas diffrenças.
- O meu rapaz chamou-lhe esses nomes?
- Por que lhe bateria eu?!
- Quem sabe?! Vejo-o quase todos os dias atirar pedras aos pretos, quebrar cabeças e fazer tanta bulha n’esta rua!...
- É porque não estou resolvido a deixar-me insultar.
- Quantos annos tem?
- Onze.
- Promete! Continue assim, que há-de ir longe!
Saíu; e eu, que tomei a ironia por um cumprimento, fiquei todo vaidoso e ufano de ter ensinado o escravo, sem me lembrar já da sova que isso me custára. D’ahi em diante, quando via passar o homem ilustre, que tinha querido conhecer-me, perfilava-me ao balcão, á espera de novo elogio; mas o grande marechal nunca mais se dignou olhar para mim, nem o seu creado tornou ao estabelecimento!
O meu patrão, despeitado com a perda do freguez, poz-me fora por incorregivel!
Assim se apreciam e premeiam as mais bellas acções!
De “O Cedro Vermelho” – vol 2 – de Francisco Gomes de Amorim, 1874. Manteve-se a ortografia original.
*- O general Andrea nasceu em Lisboa em 1781 e morreu em São José do Norte
Excelência é uma arte que se domina com treino e habituação.
Aristóteles
O elmo de D. Sebastião regressou a Portugal no início de 2011
O préstito fúnebre que acompanhou o corpo do Rei D. Sebastião de Faro até ao Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, sob a direcção do vedor Francisco Barreto de Lima, era composto pelos seguintes fidalgos nomeados por Filipe I:
Resta agora saber se o corpo transportado e homenageado era efectivamente o do jovem Rei D. Sebastião ou se tudo não passou duma fantochada para justificar a subida de Filipe II de Espanha ao trono de Portugal.
Será de facto o corpo do Rei, o que está no túmulo?
Julho de 2011
Henrique Salles da Fonseca
(*)
Do Padre Francisco de Gouveia para o Padre Diogo Mirão (i)
1564
Depois de partida a outra gente no batel que se fêz em Pambalungo, ficámos aqui quatro pessoas cristãs das que viemos, só o senhor Paulo Dias e eu e dois moços, e passámos muitos trabalhos, porque, além de nos não darem muitas vezes nada, nos espancam muitas vezes, pelo que a gente nos foge e deixa sós, e dizer isto a el-rei não muda nada, pelo que nós sofremos acomodando-nos com vender secretamente esta pobreza que temos, farrapos, coisas velhas, a fidalgos da terra a troco de mantimento. — Na cristandade se não faz nada.
Os reis grandes que são nomeados em Angola são Manicongo e Cutange e têm seus reis negros. Os fidalgos e pessoas nobres com que falamos não dão pelas coisas de Deus e o rei vemos mui poucas vezes e, quando lhe falamos nas coisas da fé, faz que não entende e, depois de importunado, diz que êle vira a aprender, e isto cheio de riso e zombando de nós.
Nosso amo, que se chama Gongacinza, me diz que el-rei ainda há pouco que começou a reinar e que por isso não dá ainda pelo que lhe dizemos, mas que tempo virá em que êle me mande chamar para o ensinar. Isto faz para nos deter, parecendo-lhe que enquanto aqui estivermos virão navios de portugueses aos portos com fazenda de que tirará proveito. — Outro dia diz que somos escravos de el-rei e que vamos fazer seu serviço, como algumas vezes fazemos, como de coser-lhe capas e outros vestidos de Portugal e brear almadias em que el-rei se lava e outras coisas semelhantes; e nisto passamos a vida.
Neste ano de sessenta e quatro se queimou a cidade de Angoleme, onde el-rei então residia e dez vezes se pôs o fogo em diversas vezes, fazendo sempre grande estrago em casas, fazenda e gente, mas da ultima ardeu sem ficar casa, de maneira que foi necessário levantar-se el-rei para daí a duas léguas a outra sua povoação, e daí a poucos dias se veio a Cabaça, metrópole de seus reinos, onde agora reside e nos com êle, fazendo aqui nova cidade e em novo sitio; foi a coisa mais espantosa o fogo de Angoleme, que eu nunca vi nem os negros se acordam de tal, porque uma cêrca tamanha como os muros da cidade de Évora, com cinco ou seis mil casas de palha e madeira muito grossa e muros de paus altos e grossos, tecidos de palha e canas, assim por todas as ruas da cidade ateado tudo em um estranho e vivo fogo por todas as partes com mui tempestuoso vento, era o mais medonho estrondo que se podia imaginar. — Começou com uma hora da noite e acabou uma ou duas horas ante-manhã pouco mais ou menos, deixando tudo arrazado e feito em cinza e carvão; e, conquanto as gentes que acudiam a êste fogo serem perto de mil pessoas, que logo se ajuntaram ao tanger dos seus chocalhos para arrecadar a fazenda de el-rei, se queimou infinidade, assim da terra como da de Portugal. — Era tão bravo êste fogo, que, nas mui altas palmeiras de que a cidade estava toda cheia, andavam tão fortes as línguas dêle, que com serem verdes ardiam como tochas e, como eram altas e cheias de rama, tomavam maior vento, pelo que faziam maior estrondo, e toda a terra que descobríamos com a vista estava tão clara como se fora ao meio-dia, sendo tão alta noite. Neste fogo morreu muita gente queimada que se não pode salvar, outra que se mandou queimar e lançar ao mesmo fogo para o aplacarem, que bem pouco lhe aproveitou, porque o Diabo assim o costuma com êles e com todos os seus servos, que é obrigá-los a fazer-lhe muitos serviços e maldades que lhes ordena, sem fazer por êles nenhuma coisa das que lhe pedem, antes tudo ao contrário. — Fêz, como digo, muito espanto êste novo fogo em toda a gente da terra e o que mais espanto fêz foi estarem as nossas casas pegadas com os muros de el-rei, não lhes fazendo nenhuma das vezes o fogo nada, antes vinha sempre morrer na nossa testada como milagrosa, e que ninguém o vira que o não atribuísse a grande milagre.
E outra coisa que nao fêz pouco espanto foi verem nosso fato na rua sem guarda e não se furtar coisa alguma e o seu com muitas guardas se roubou quasi todo, coisa que nêles causou mui grande admiração, e falava toda a terra nisto. Nós atribuímos a especial providência e misericórdia de Deus.
Todos nos diziam que a igreja e coisas que de Deus nela tínhamos nos guardavam e por isso folgavam muitos de nos ter por vizinhos, por se verem livres do fogo e crer que por isso foram livres, como êles também crêem, por estarem a par da igreja, principalmente um gentio fidalgo, parente de el-rei, bem valoroso e capitão-mór dêste reino.
—Ao primeiro de Novembro de mil quinhentos e sessenta e quatro.
- - - * - - -
A dureza do cativeiro aumenta. Os portugueses são espancados com frequência e, para não morrerem de fome, sujeitam-se a “vender secretamante esta pobreza que temos, farrapos, coisas velhas»!
Na propagação da fé cristã não havia também quaisquer progressos: o rei, ou fazia que não os entendia ou francamente zombava das crenças dos cativos, caídos sob as garras do feiticeiro-mor Gongacinza, que os ia enganando conforme lhe convinha.
Todavia os portugueses já tinham igreja em Angoleme, como se vê da parte final do documento.
A carta dá a indicação dos reinos limítrofes de Angola:
Em face do grande incêndio que quasi por completo destruiu Angoleme, residência do rei, êste mudou para outra povoação, a duas léguas de distancia. Daí deslocou-se para Cabaça(ii), metrópole de seus reinos «onde agora reside e nós com êle, fazendo aqui nova cidade e em novo sítio».
A igreja portuguesa de Angoleme escapara do incêndio. (iii)
(i) Provisão de 10 de setembro de i555 expedida a Diogo de Teive, mandava entregar ao Provincial i da Companhia nestes reinos, que era Diogo de Mirão, o Colégio das Artes, para que os Padres dirigissem e lessem as Artes e tudo o mais que lessem os mestres franceses».—Historia da Literatura Portuguesa, e Mendes dos Remédios, pag. 328 (5ª edição).
(ii) Nbanza-a-Cabaga, segunda côrte ou segunda banza — Da Mina ao Cabo Negro, L. Cordeiro, pag. 10, nota. Ver outra derivaçao em Lopes de Lima, intr., pag. ix, nota 4ª.
(iii) do livro Relações de Angola (Primórdios da Ocupação Portuguesa) – Pertencentes ao Colégio dos Padres da Companhia, de Luanda, e transcritas no Códice existente na Biblioteca Nacional de Paris. Prefaciadas, comentadas e anotadas por Gastão de Sousa Dias. Coimbra, Imprensa da Universidade. 1934.
Francisco Gomes de Amorim
(*)http://torredahistoriaiberica.blogspot.com/2010/07/os-primeiros-tempos-dos-portugueses-em.html
O grito
Artista: Edvard Munch
Fonte : Wikipédia
Produto da necessidade de se comunicar, a voz foi factor primário na evolução humana. Através da voz exteriorizamos sentimentos e ideias. Latir, miar, chilrear, grunhir, é essencialmente através da emissão de sons que os animais se comunicam. Na escala evolutiva dos animais, os mais complexos, quase todos têm voz.
Para haver voz é necessário um aparelho que, sofisticado no homem, é chamado fonador. Composto por uma caixa de ressonância (boca), pregas mucosas móveis (cordas vocais) e um fole (pulmão e seus canais), por onde sai e entra o ar, esse aparelho funciona sob o comando de estímulos cerebrais que fazem movimentar a musculatura dessas estruturas, liberando a voz. A capacidade respiratória, o estado das cordas vocais, a língua, os dentes, o palato, os lábios, a articulação maxilo-mandibular, a integridade dessas estruturas, a acção dos harmónios e as emoções são os factores que vão contribuir com a qualidade e a identidade do som emitido pela voz humana.
Para muitos indivíduos a voz é também instrumento de trabalho, para todos que a usam é marca pessoal. Como uma digital, ela projecta a personalidade, o estado de saúde (físico, psíquico, emocional), o sexo, a idade, a educação, o estado de lucidez ou embriaguez, a nacionalidade e até a profissão de quem fala. Quantas vezes dizemos que fulano ou beltrano parece um professor, médico, ou padre só pela maneira de se expressar e pelo som das palavras ao falar! O tom da voz pode mostrar até aquilo que queremos ou não esconder, autoridade, insegurança, soberba, medo, alegria, tristeza, bondade, condescendência. A voz pode levantar suspeitas, convencer, irritar, agradar ou até ferir. Através do discurso podemos dar uma impressão falsa, enganar, mas com a voz, não, só sendo artista! Afinal, a voz é uma forma de sensibilizar o próximo, de fazer comunicação verbal. A voz nos faz humanos!
Maria Eduarda Fagundes
Tupaciguara, 3 de Julho de 2011
Afonso de Albuquerque (Alhandra, 1453 — Goa, 16 de Dezembro de 1515)
CELEBRAÇÃO DOS 500 ANOS DA CHEGADA DOS PORTUGUESES À TAILÂNDIA
No passado dia 7 de Julho, teve lugar no Museu Nacional da Tailândia (Bangcok) um evento cultural com o genérico "Arte Legacy", integrado no programa das celebrações dos 500 anos da chegada (1511) dos Portugueses ao Antigo Reino do Sião, em Ayuthaya.
Leia aqui http://aquitailandia.blogspot.com/2011/07/tailandia-eventocultural-integrado-nas.html
Manuel Emílio Camarinhas, proprietário do restaurante «Os Conjurados», em Vila Viçosa, conhece 37 receitas de doces conventuais oriundas da meia dúzia de Conventos que in illo temporae existiram naquela Vila. Julgo que na lista se vão sucedendo uns aos outros de modo a que nenhum deles fique esquecido nem a cozinheira com o jeito encarquilhado.
E enquanto nos apresentava as fumegantes vitualhas, serviu-nos a agradável conversa que tivemos por companhia ao jantar. Eis como ficámos a saber coisas que não constam de todos os livros da nossa História.
A questão está então em saber quem ia para os Conventos inventar tais receitas. Não havendo resposta simples numa Igreja feita sobretudo por homens em que à mulher sempre esteve reservado um papel marginal – pese embora a grande veneração à Mãe de Deus – meditemos um pouco...
Para os conventos masculinos iam sobretudo os que se sentiam com vocação para o Serviço Divino mas aos femininos, para além de acolherem verdadeiras vocações, cabia também uma função de amparo a damas solteiras, a viúvas de militares (e, portanto, relativamente pobres) e a quem tivesse tido comportamento social menos canónico.
Não se estranhe, pois, a profusão de conventos, sobretudo femininos.
Foi nesse conceito genérico de grande vocação social que, por volta de 1514, o IV Duque de Bragança, D. Jaime, resolveu fundar nas vizinhanças do seu paço uma casa religiosa que servisse de Panteão às Senhoras da sua Casa e onde recolhessem as filhas do seu segundo casamento que não pudessem casar condignamente.
O Real Convento das Chagas de Cristo foi inaugurado em Vila Viçosa no dia 8 de Fevereiro de 1533 nele dando entrada nove religiosas tendo como Abadessa Madre Maria de S. Tomé, irmã da Duquesa (D. Joana de Mendonça) já então viúva de D. Jaime e mãe do novo Duque, D. Teodósio. O mosteiro possuía tenças próprias consignadas vitaliciamente pelas famílias e tutores das professas, tendo a maior parte delas pago a construção de aposentos privativos.
Permita-me o leitor que lhe chame a atenção para o nome religioso adoptado pela Madre Abadessa…
Mistério?
Cai o mistério se lhe contar que houve um brioso militar então na casa dos 30 anos de idade que, sendo nomeado para as lutas que Portugal então travava no norte de África, prometeu que, se sobrevivesse à campanha de Azamor e regressasse são ao reino, faria rigorosa penitência de um mês no Real Convento das Chagas de Cristo, em Vila Viçosa.
Tomé de Sousa se chamava esse brioso militar e, sobrevivendo às lutas africanas, cumpriu a promessa de modo tão empenhado que até fez um filho à Madre Abadessa.
(*)
Por aqui passaram Tomé e Tomé
E foi Gonçalo de Sousa – «o bitomé», por ser filho de dois Tomés – que arcou com a bastardia.
Mas o filho não era ilegítimo; os pais, sim.
Março de 2011
Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA:
Convento das Chagas – http://www.portugalvirtual.pt/pousadas/vila.vicosa/pt/index.html
Tomé de Sousa – http://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A9_de_Sousa
No próximo Domingo, dia 17 de Julho, dia dos Beatos Mártires do Brasil, a Rádio Renascença transmitirá a Eucaristia das 11h00, a partir da Igreja Paroquial de Alcochete, em cuja pia baptismal um deles, o Beato Manuel Rodrigues, foi baptizado. Alcochete não é só o berço de D. Manuel I, mas é também deste Beato Manuel Rodrigues e igualmente do “Santo” Padre Cruz. Sabe-se que este gostava de assinar “Francisco Rodrigues da Cruz”, em homenagem ao Beato, a cuja família se honrava de pertencer.
No Domingo seguinte, dia 24, o Bispo de Bragança e Miranda, D. António Montes Moreira, presidirá à Eucaristia transmitida pela TVI, na Igreja dos Santos Mártires daquela cidade, dedicada aos Beatos Nicolau Dinis (de Bragança) e Bento de Castro (de Macedo de Cavaleiros), dois dos 40 mártires. Na Eucaristia, será feita a sua evocação.
Sabemos que, em vários locais de Portugal e Espanha, estão a ser planeados tempos de oração, de formação ou homilias especiais na Eucaristia, nos três dias que antecedem esta festa (14, 15 e 16), evocando este grupo de 40 missionários jovens (32 portugueses e oito espanhóis), como exemplos de vida e nossos intercessores.
Muito se deseja que as Comunidades Religiosas e as Famílias de fé mais consciente cresçam na estima, admiração e devoção pelo heroísmo destes jovens, a ponto de confiarem à sua intercessão o êxito dos seus projectos, sobretudo os que se relacionam com o crescimento do Reino de Deus nas suas vidas e na sociedade portuguesa.
Padre João Caniço Vice-Postulador da Causa de Canonização dos 40 Mártires do Brasil. |
(*)
Éramos quatro no café a comentar com satisfação sobre a boa ordem, correcção, educação, serenidade, elegância, com que decorrera o primeiro dia do Parlamento, sob a égide do novo Governo. Todas ficáramos seduzidas com a clareza de Passos Coelho, com a lucidez e ponderação dos demais ministros, que se apresentavam como pessoas empenhadas e dispostas a dar no duro para tentar resolver aquilo que muitos consideram insolúvel.
Todas estávamos fartas das touradas parlamentares anteriores, com um Primeiro-Ministro useiro e vezeiro no contra-ataque, na omissão de respostas, nas desculpabilizações por conta da conjuntura internacional, e nacional devida ao governo anterior que Jorge Sampaio demitira – o de Santana Lopes – feito de muitas trapalhices, é certo, mas menos do que o de Sócrates que Sampaio apadrinhou, sem que ninguém o responsabilize hoje por este caos que o seu neófito criou. Fartas do discurso de Sócrates, simultaneamente enfático de realizações e promessas, em artimanhas linguísticas de que se verificava posteriormente a falsidade. Fartas da ocultação da verdade, da falta de resposta às acusações sobre as diversas fraudes, da oratória de convicção, semeando, sem pudor, falsa esperança, mesmo após a constatação progressiva do estado calamitoso das finanças nacionais.
As eleições provaram, contra as minhas expectativas, que a maioria dos portugueses se não deixara iludir. Apesar da rede socialista bem montada, com empregos e espórtulas para os familiares e amigos, com os poderosos impunes nos seus desmandos, que tanto contribuíram para o desabar do país.
Realmente, eu não contava que um povo, educado no servilismo e na grosseria do à-vontade familiar com que se dirigia ao leader ministerial, escolhesse outro, pessoa mais sóbria, ainda sem a rede poderosa que os continuadores de Sócrates, sérios e ameaçadores, prometem implicitamente manter, assim que os actuais percam o poiso. Porque o vão perder – os novos profetas da desgraça, que são os da rede poderosa, bem se esforçam por os fazer cair, em chufas e previsões sérias, que lhes dão as suas muitas leituras dos jornais e estudos estrangeiros, sobre os europeus periféricos, em vias de sair do euro.
Não, os novos profetas da desgraça não vão em dizeres como estes sensatos de um singrar por caminhos mais responsáveis, de escolhas por concurso e por mérito, independentemente de partidos, de mudanças num sentido de uma ponderação mais honrada, de promessas de trabalho e empenhamento.
Mas os outros, os que ainda acreditam na possibilidade de emenda, continuam a confiar, e a lembrar erros passados, no empenhamento do seu amor pátrio.
Vem isto a propósito do Acordo Ortográfico que deveria ser banido, como prioridade primeira, entre as muitas medidas primeiras de salvação nacional.
De um artigo do sociólogo Alberto Gonçalves, saído no Diário de Notícias, em 3 de Julho, extraio o seguinte passo:
«Ainda por cima, às vezes sai mais caro, em esforço e em dinheiro, aceitar as desgraças ditas inevitáveis do que impedi-las. Na questão do AO, por exemplo, parece-me menos complicado deixar as coisas como estão do que proceder à inutilização de toneladas de papel e à revisão de gigabytes de informação “virtual” em nome de um compromisso pateta e de enigmática serventia. Vasco Graça Moura, aqui no DN, já aludiu ao prejuízo material que o AO implica, ao tornar obsoletos manuais escolares, dicionários e livros em geral. Se o objectivo do Governo eleito fosse torrar fortunas em disparates a “implementação” do AO viria a calhar. Sucede que o momento é, ou assim nos garantem, de austeridade, por isso dói ver aumentos de impostos contrabalançados por desperdícios quantitativamente e simbolicamente desmesurados. Pior que tudo, além de tonto nos princípios e dispendioso nos meios, o AO é horroroso nos fins.”
Lembrei-me de um texto de Pedro Passos Coelho, publicado há pouco tempo, no blogue de Henrique Salles da Fonseca – “A Bem da Nação” – com a opinião de Passos Coelho sobre o mesmo AO, que julguei recente, e que por isso comentei com entusiasmo:
“Já tenho afirmado, em resposta a essa questão colocada por jornalistas, que o acordo que Portugal assinou há vários anos atrás (porque tal acordo já foi assinado) não representa nenhum benefício para a língua e cultura portuguesa, pelo que não traria qualquer prejuízo que não entrasse em vigor. De resto, não vejo qualquer problema em que o português escrito possa ter grafias um pouco diferentes conforme seja de origem portuguesa ou brasileira. Antes pelo contrário, ajuda a mostrar a diversidade das expressões e acentua os factores de diferenciação que nos distinguem realmente e que reforçam a nossa identidade. Aliás, considero míope a visão de que o mercado brasileiro de cultura passará a estar aberto aos autores portugueses em razão da homogeneidade da grafia, pois que o interesse desse mercado pela nossa produção só pode depender do real interesse pelas nossas especificidades e aí a suposta barreira do grafismo não chega a ser uma barreira, pode ser um factor de distinção que acentua o interesse pela diferença.
Pedro Passos Coelho”
Eis o meu comentário:
“Deus abençoe este homem que, com estes dizeres, semeou esperança nos corações daqueles que pensam exactamente o mesmo. Será que podemos manter a ilusão de que é possível o recuo num processo transformacional da nossa língua segundo um documento que muitos provaram que provém de idiotas para idiotas?
Berta Brás”
É de 2008, o texto de Passos Coelho. Será que pode manter as suas convicções? Será que pode fazer inverter um processo de esbulhamento primário à própria alma de um povo que tem uma língua antiga, língua mãe de outras línguas e que se deixa afundar na vileza de um AO subserviente e inútil, por imposição de factores económicos que aparentemente servem apenas para rebaixar, desprezando nexos ideológicos de parentescos antigos que os outros países de origem clássica altivamente mantêm?
Mas, sim, Deus abençoe estes novos governantes, num caminho iluminado.
Berta Brás
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