Segunda-feira, 28 de Março de 2011

O JESUÍTA TOMÁS PEREIRA

 

o Imperador Kangxi

 

 

 

e Pedro o Grande da Rússia

 

 

O jesuíta Tomás Pereira, nascido perto de Famalicão, São Martinho do Vale, em 1645 e falecido em 1708, foi uma das mais importantes figuras da História da China do século XVII, da história em geral, e um orgulho para os portugueses... que sabem da sua existência!

Professor pessoal, intérprete e conselheiro do imperador chinês Kangxi, com quem privou 35 anos, Tomás Pereira, pelas posições que ocupava, acompanhou importantes acontecimentos políticos da China.

Desde há séculos a China só fazia guerra aos Tártaros e, para evitar e expansão territorial dos russos, nos confins da Sibéria, o imperador decidiu mandar uma embaixada à Rússia para estabelecer, definitivamente, os limites territoriais de cada império, numa área de seculares desentendimentos entre as duas nações, o que veio a resolver-se com o Tratado de Nerchinsk, cujas negociações demoraram dois anos, e se concluiu em 1689.

Por ser considerado um elemento de toda a confiança, o padre Tomás Pereira, e seu colega, também jesuíta, francês, Jean-François Gerbillon, foram encarregados de acompanhar essa embaixada, uma vez que a China não sabia nada de tratados e direto internacional, falava-se unicamente chinês, e ninguém sabia qualquer outra língua “ocidental”.

 

 

 

Busto do padre Tomás Pereira na sua terra natal

 

O padre Pereira concluiu ainda um tratado sobre budismo chinês e o primeiro tratado de musica ocidental (também convertido para chinês), e foi o responsável pelo Calendário Astronômico, instrumento indispensável na vida política chinesa daquele tempo – nele eram determinadas as datas das cerimônias religiosas que o imperador, como representante do reino do Céu, tinha que presidir.

Essa confiança do soberano chinês culminou com a publicação do Édito de Tolerância de 22 de Março de 1692 permitindo a difusão e prática do Cristianismo na China.

Demonstrou, com este gesto, o Imperador Kangxi, uma invulgar abertura ao Ocidente da qual resultou, não apenas o florescimento da Missão Católica e a confirmação da respeitabilidade do saber ocidental na China, como assegurou a frágil situação de Macau, o único entreposto europeu no Império.

 

O grande imperador Kangxi

 

Deixemos a China em paz e vejamos agora um pouco sobre o czar Pedro, o Grande, como ficou na história, não por ter cerca de dois metros de altura, mas pela sua imensa obra, considerado desde os dez anos de idade o czar, um jovem de extrema capacidade e inteligência, que decidiu transformar a Rússia, de um país ainda na idade média, para a moderna época que dominava a Europa.

O seu pai, czar Alexis, foi o primeiro a mandar construir casas de pedra em Moscovo! Até ali eram todas de madeira!

Pedro, aos dezessete anos, dominava toda a política, e iniciava a grande “revolução” cultural, social e militar na Rússia, com uma capacidade jamais igualada por qualquer outro monarca do mundo. Estudou todas as artes e ciências, astrologia, matemática, mais tarde em viagem pela Europa, na Holanda, quis aprender como se construíam navios e, saindo do palácio onde estava hospedado em Amsterdam, instalou-se num pequeno apartamento junto do cais e foi trabalhar junto aos operários na construção de uma nave, começando pelo mais humilde serviço, varrer o canteiro naval, até chegar a mestre. Logo os operários começaram a chamá-lo de Piterboss, o chefe! Foi isto rápido porque Pedro era assaz inteligente e trabalhador. No intervalo do almoço comia até junto com os operários.

 

 

O Grande Pedro I

 

Quando soube da embaixada que a China enviava, encarregou o Governador da Sibéria, um boiardo de nome Gollovin, para receber os chineses com a mesma pompa.

A embaixada da China era composta de sete embaixadores, os dois jesuítas e mais dez mil homens de guarda e para a carga de mantimentos e presentes!

Diz a história que a comitiva do Governador Gollovin superou a chinesa! A Rússia não se podia mostrar inferior à China!

O padre Tomás Pereira e seu colegas, foram homens chave nestas negociações! Além do mandarim, falavam latim. Do lado russo havia um único homem, alemão, da embaixada alemã em Moscovo, que falava também latim. E foi com estes interpretes que as duas grandes nações se entenderam! Demorou quase dois anos a conversação, o que não é para admirar. Detalhes a considerar, algumas exigências de parte a parte, e as múltiplas traduções que andavam de um lado para o outro!

Por fim, entendidos, assinaram um documento, feito em duas vias, em latim, com a indicação precisa dos limites territoriais, que todos os negociadores assinaram e juraram, em nome de Deus, e em duas “grandes e grossas” pedras de mármore, que ficaram a assinalar essa divisa, mandaram gravar o seguinte:

 

“Se alguém jamais tiver o pensamento secreto de reacender a guerra,

Nós pedimos ao Senhor soberano de todas as coisas,

Que conhece os corações,

De punir os traidores com uma morte precipitada.”

 

Bonito!

A Rússia, estava em boa parte já cristianizada, mas os chineses só conheciam os acontecimentos naturais, mas nem por isso deixavam de reconhecer a existência dum Ser superior “que conhece os corações”!

Acabaram as escaramuças entre tropas chinesas estacionadas na Manchúria, e os cossacos da região de Nerchinsk.

Este tratado durou duzentos anos, e o comércio fluiu entre ambas as partes.

 

N.- Este texto foi compilado de vários sites da Internet, mas sobretudo da “Histoire de l’Empire de Russie” de Voltaire.

 

Rio de Janeiro, 25-01-2011

 

Francisco Gomes de Amorim

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publicado por elosclubedelisboa às 00:11
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